Foto Emilio Pedroso
                                                                                                    
O porto-alegrense PAULO HECKER FILHO nasceu em 26 de julho de 1926 e escreveu mais de 30 livros ao longo de sua vida – 18 deles, mais um inédito, todos de poesia, foram reunidos em 2014 pelos poetas Alexandre Brito e Celso Gutfreind para o Instituto Estadual do Livro/Corag, incluindo Patética, de 1955, que figura entre os pouco conhecidos, mas que, na ocasião, foi recomendado pela Revista do Globo, na edição de setembro daquele ano: “’Patética’ de raro bom-gosto gráfico, é um dos mais bonitos livros de poesia publicados no sul, ultimamente”, lembra Alzira Tacques (1956, p. 1289).
Formou-se na Faculdade de Direito da UFRGS, em Porto Alegre – sem nunca exercer a profissão –, onde participou do Grupo Quixote e reunia-se com o futuro jurista Raymundo Faoro (1925-2003), da Academia Brasileira de Letras (ABL), José Paulo Bisol (1928), Esdras do Nascimento (1934-2015) e Heitor Saldanha (1910-1986), entre outros escritores. À época, colaborou com a Fronteira e fundou a revista Crucial (1952-1954).
O primeiro livro foi publicado em 1949 pela Livraria do Globo e chamava-se Diário, considerado o melhor livro de ensaio daquele ano. Sobre o livro, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) teria dito: “Não conheço outro caso entre nós de uma aventura intelectual tão vivida aos vinte anos como a sua.” Nesse livro constam as observações sobre obras de literatura, críticas não acadêmicas registradas ao longo da adolescência, sinalizando desde cedo o literato polêmico a quem “a literatura veio porque, perdida a aposta no Absoluto e assim na santidade, trazia enfim uma justificação para a vida: a beleza, a poesia”.1
Seus livros dividem-se entre obras de crítica, novela, conto, dramaturgia (a peça O provocador, de 1957, recebeu o Prêmio Sagol), poesia e tradução – a partir de 1979, incluindo textos de Guillaume Apollinaire (1880-1918), Arthur Rimbaud (1854-1891), Marquês de Sade (1740-1814), Fernando de Rojas (1470-1541), Yasunari Kawabata (1899-1972) e Maurice Leblanc (1864-1941) Antes de começar a publicar poemas, o nome de Paulo Hecker Filho já corria o mundo: a novela Internato, de 1951, foi publicada nos Estados Unidos, a pedido do editor Winston Leyland, conforme registro da PUCRS. Só nos anos 80 é que a poesia ocupou um lugar de destaque na bibliografia de Hecker, embora na década anterior ele houvesse publicado, no jornal Correio do Povo, alguns poemas reunidos sob o título “Cinquenta Anos”, onde era possível perceber um estilo bastante peculiar. Com Perder a Vida, de 1986, ganhou o Prêmio Cassiano Ricardo, e foi também o seu livro de poemas melhor recebido pela crítica – Moacyr Scliar (1937-2011), brevemente, apresenta o autor na terceira capa do livro: “A poesia de Paulo Hecker Filho é de uma força demolidora” (1985); Cartas de Amor, do mesmo ano, mereceu a atenção mais do que especial de Mario Quintana (1906-1994): “Eu só tenho dois poetas prediletos no Rio Grande, Paulo Hecker Filho... e eu.”2
Para Sidnei Schneider, “Hecker não era rabiscador de versos, mas profundo conhecedor da poesia universal, e aquilo que o poeta quis ou não quis fazer jamais saberemos, o que temos é o seu poema, o que efetivamente se pode ler nele ou não, reservadas certas significâncias de época e lugar”.3 Era, também, um descobridor de talentos, com atenção especial para os novos poetas – “considerava o amor e a amizade suas tarefas essenciais”, escreveu Schneider.
Durante 40 anos colaborou com críticas literárias para os jornais de Porto Alegre e com o Estado de São Paulo. “As leituras de romances ou outros gêneros são feitas por mim mesmo, não no que já foi dito a respeito. Não estranha que surjam coisas inéditas. Se bem que na hora decisiva dos juízos de valor, eu possa me equivocar como os outros”, disse, certa vez, a respeito das polemizações em que se envolvia. Conformem Schneider, “PHF era o mais destacado crítico formal e informal do RS do seu tempo, já que, além dos textos para jornais e revistas [...] escrevia cartas a escritores maduros e iniciantes com detida análise crítica”.4
Morreu em 12 de dezembro de 2005, vítima de uma hemoptise. Na ocasião, o ensaísta Paulo Bentancur (1957) comentou: “A morte do poeta e crítico gaúcho não é o fim, mas talvez o início do enfrentamento de sua obra.” Para isso, o acervo de Paulo Hecker Filho está disponível no Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural (PUCRS), objeto de doação dos familiares. Nele, cerca de 40 mil volumes, entre clássicos e novos, além de documentação pessoal. (A partir de HECKER FILHO, 1985; TACQUES, 1965; http://www.pucrs.br/delfos/paginas/hecker.inc1,2; https://horadopovo.org.br/paulo-hecker-filho-o-abraco-e-que-nos-justifica/3,4).

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