Nascido em 15 de julho de 1935, o poeta OSCAR BERTHOLDO, natural de Nova Roma do Sul, que já foi distrito de Antônio Prado, ingressou no Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul, onde escreveu seus primeiros poemas e dirigiu a revista União, entre 1947 e 1952. Formou-se em Filosofia pela Faculdade Imaculada Conceição de Viamão, onde também cursou Teologia. Foi sacerdote, professor e escritor; colaborou em diversos órgãos de imprensa, principalmente em Farroupilha, cidade onde morou desde 1980. Sua estreia em livro foi com Matrícula (1967), ao lado de José Clemente Pozenato, Jayme Paviani, Delmino Gritti e Ary Nicodemos Trentin. Além as publicações em livros, revistas e jornais, o poeta recebeu diversos prêmios, como o de 1973 com o livro Poemimprovisos, que mereceu o 1º lugar no Concurso Literário do Rio Grande do Sul.
Neste, “ambicioso e difícil” na avaliação do crítico Antônio Holfeldt, Bertholdo apresenta “uma elaboração mais filosófica, menos telúrica”, em que, ao negar o campo e as origens e integrar-se “no universo da cultura burguesa ocidental” (in BERTHOLDO, 1982, p. 104), na verdade afirma a condição da universalidade. Em Lugar, vencedor do Concurso Nacional de Poesia do governo de Goiás, segue Holfeldt, ele retoma e reforça “as propostas dispersas” (o vale e a memória, entre outras), que o identificarão (idem, p. 106).
Em 1977, inscreveu o livro Com um mínimo de sete e um máximo de vinte poemas, com o pseudônimo Floriano Pólis, no I Concurso Nacional de Poesia, de Florianópolis (SC). Nele, identifica-se um viés de uma poesia de protesto frente à lírica, característica do poeta gaúcho. “A intenção política, todavia, anunciada no pseudônimo, e a ironia, subjacente no título, atenuam-se quando o poeta entrega seus textos ao público, sobrepujadas ambas pela imposição lírica que o caracterizava”, assegura a pesquisadora Maria da Glória Bordini (in VÁRIOS, 2007, p. 69).
Boa parte da produção de Bertholdo continua inédita. Em Matrícula 40 anos, publicação da Editora da Universidade de Caxias do Sul (EDUCS), de 2007, a pesquisadora Suzana Pagot lembra da intensa produção do poeta. Em vida, foram, além do Matrícula de 1967, mais oito livros. Em 1991, a EDUCS publicou Bocca chiusa. Em 2001, também pela EDUCS, foi publicado Molho de Chaves, que reúne sete das obras escritas por Bertholdo entre 1967 e 1974. De acordo com Pagot, no artigo publicado na coletânea de 2007, “A poesia de Oscar Bertholdo apresenta uma condição transitiva de necessária complementação pelo binômio regionalidade/universalidade. [...] a poesia de Bertholdo ultrapassa os limites da territorialidade cultural e atinge o patamar de poesia universal” (PAGOT in VÁRIOS, 2007, p. 48).
A universalidade apontada por Pagot se dá pela escolha temática do poeta, que inclui a nostalgia, o retorno à infância, o cunho pastoril/paisagístico, mas que “redefine as articulações da linguagem sob o impulso da criação metafórica, utiliza a temática regional não apenas como valorização do homem desta região (imigrante italiano, marcado pela condição histórica, política, social, cultural), mas também como artifício para visitar o sentimento humano de pertencimento e não-pertencimento, da solidão, do cansaço, da dúvida” (in VÁRIOS, 2007, p. 62).
O professor Antônio Carlos Mousquer, na mesma antologia, identifica a inadequação existencial nos poemas de Bertholdo. Neles, o poeta expressa “uma intenção redentora” (in VÁRIOS, 2007, p. 85), muitas vezes aproximando-se a poesia da religião, embora esse reconhecimento o leve ao isolamento. Para Mousquer, a situação está expressa nos versos de “Primeira canção de muito perto” (in 2007, p. 10), mas é frequente em toda a poética de Bertholdo, que, também por imposição de ordem profissional, vê-se empenhado “no empreendimento de se tornar o artífice de sua existência” (in VÁRIOS, 2007, p. 96).
Para o professor Jayme Paviani, o poeta Oscar Bertholdo, tragicamente morto em 1991, durante um assalto, aos 56 anos, deixa traços de melancolia em sua obra. Foi, ainda que pouco lembrado, um dos maiores incentivadores do movimento cultural da Serra e exerceu forte influência nos movimentos literários surgidos nos anos 1960 e 1990. Nova Roma do Sul homenageou o poeta dando seu nome para a biblioteca pública; em 1999, Farroupilha concedeu-lhe postumamente o título de Destaque do Século; em 2018 ocorreu o XVI Concurso Oscar Bertholdo (contos, crônicas e poesias), promovido pela prefeitura farroupilhense. A casa onde residiu e transformou-se em patrimônio cultural da cidade, já foi uma casa-lar para crianças e adolescentes e depois uma unidade do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) – inicialmente seria o espaço para um memorial para guardar a história do padre-poeta. Atualmente, o acervo literário de Oscar Bertholdo, constituído em 2000 pelo escritor caxiense Eduardo Dall'Alba (1963-2013), sob orientação de Bordini, encontra-se na Biblioteca Central da PUCRS, em Porto Alegre, aberto apenas para pesquisa (A partir de BERTUSSI, ZINANI, SANTOS, 2006; PAVIANI in BERTHOLDO, 1996, 2001; HOLFELDT in BERTHOLDO, 1982; VÁRIOS, 2007)




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