QUINO nasceu em 17 de
julho de 1932, batizado Joaquim Salvador Lavado. Depois de uma tentativa
frustrada de morar em Buenos Aires (Argentina), tendo na bagagem os estudos na
Academia de Belas Artes de Mendoza, voltou para a cidade natal e começou a
trabalhar com publicidade. Tinha pouco mais de 18 anos. Só aos 22 tentou nova
investida na capital, como ilustrador e humorista. Demorou ainda 10 anos para
criar aquela que seria uma das figuras mais irreverentes e queridas dos
cartuns, Mafalda. Segundo o autor, a criação da personagem teve fins
publicitários – precisou criar uma campanha para a fábrica de eletrodomésticos
Mansfield, e o personagem tinha que começar com a letra “M”. Ganhou vida nas
páginas da revista semanal Primeira Plana
e nunca mais foi esquecida. Em 1965, tornou-se uma tira diária no jornal El Mundo, e, um ano depois, Mafalda
ganharia um álbum solo, com as tiras já publicadas em jornais, que esgotou em
menos de duas semanas.
Em 1969 foi publicado
na Itália o álbum Mafalda la Contestaria,
com apresentação do escritor e semiólogo Umberto Eco (1932-2016) – a partir
daí, ela se espalharia em tiras diárias e/ou álbuns por Portugal, pela Espanha,
França, Alemanha, Suécia, Alemanha Ocidental e Finlândia, com popularidade
semelhante aos Peanuts, de Charles Schulz
(1922-2000) – hoje ela é traduzida para mais de 30 idiomas. “Mafalda não é
somente uma nova personagem dos quadrinhos; é provavelmente a personagem dos
anos setenta”, justificou Umberto Eco (in GOIDA, 1990, p. 294). A repercussão
transformou-a em objeto comerciável e logo se viu Mafalda em brinquedos,
bonecos, brindes e merchandising de
toda espécie (MOYA, 1993). Em contrapartida, a análise de Pablo José Hernandez
em Para ler a Mafalda (Buenos Aires,
1975), procura demonstrar que “a menina latino-americana é uma defensora da
ideologia pequeno-burguesa e, portanto, do imperialismo americano”, conforme
interpreta Moya (1993, p. 184). Mas Hernandez é implacável com Mafalda apenas
porque ela não é conivente com o presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) – na
verdade, ela faz duras críticas ao ditador argentino e a todas as ditaduras do
mundo, o que desagrada o autor, que admirava o então presidente.
Embora as histórias
girem em torno de uma criança que odeia sopa, e possam ser consideradas uma
“tira de humor”, elas não têm nada de “infantil”. É uma “tagarela. Fala pelos
cotovelos”, segundo o quadrinista Moya, mas “é de uma timidez incrível” (1993,
p. 183). Mas, principalmente, por ter uma visão aguda da vida, humanista e
crítica.
Mafalda está sempre
em companhia do irmão Gui, esperto demais para sua idade, de Susanita, a fútil,
Felipe, o sonhador, Manolito, filho de comerciante e pão-duro, Miguel “Miguelito”
Pitti, egocêntrico filho único, e da minúscula Liberdade (com direito à dupla
interpretação), mas não deixa de dialogar com os pais, ou Papá Tomás e Mamã
Raquel, a quem surpreende com tiradas de “adulto”, demonstrando pessimismo
precoce com a política e com o destino da humanidade ao demonstrar “sua recusa
em ser integrada no mundo adulto que condena”, como assegura Moya (1993, p.
185). Até hoje, ela “encanta a todos por sua sagacidade, irreverência e outros predicados”,
dizem a psicopedagoga Cláudia Coelho e a crítica literária Luzdalva Magi*.
Mas, em julho de 1973,
Quino encerraria a carreira de Mafalda, por não querer repetir-se. E se dedicou,
a partir daí, a outras produções, não menos aclamadas pelos leitores. Mas
Mafalda veio para ficar. A Publicações Dom Quixote, de Portugal, editou o álbum
Toda Mafalda – da primeira à última tira,
que ganhou edição brasileira em 1991, pela Martins Fontes Editora, álbum em
formato grande, com mais de 400 páginas. Em 1976, Quino voltou a trabalhar com
Mafalda para a campanha que promoveu a Convenção dos Direitos Humanos da
Criança, da Unicef. De acordo com o escritor Julio Cortazar (1914-1984), a
importância de Mafalda é inconteste. “Aquilo que eu penso de Mafalda não tem nenhuma importância.
Realmente importante é aquilo que Mafalda pensa de mim” (in GOIDA, 1990, p. 294). (a partir de GOIDA,
1990; MOYA, 1993; https://conhecimentoliteratura.com.br/conheca-mais-sobre-a-mafalda/*)
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