JOSÉ CLEMENTE POZENATO nasceu em 22 de maio de 1938, no distrito de Santa Teresa, em São Francisco de Paula, região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul. Como ensaísta, ganhou seu primeiro prêmio literário (menção honrosa) com O regional e o universal na literatura gaúcha, publicado pelo Instituto Estadual do Livro (IEL)/Editora Mercado Aberto em 1974, onde se mesclam a “objetividade do crítico e a sensibilidade do poeta”, segundo Guilhermino Cesar (in AUTORES GAÚCHOS, 1997, p. 13). O Brasil viu o conto O caso do martelo (1984) e a história infantil Pisca-tudo (2001) serem transpostos para a televisão e o mundo assistiu ao romance O Quatrilho (1985), a primeira parte de uma trilogia, completada com A Cocanha (2000) e A Babilônia (2006), participar da premiação da 68ª edição do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar de 1996, com direção de Fábio Barreto e atuações de Patrícia Pillar, Glória Pires, Alexandre Paternoster e Bruno Campos, com música de Caetano Veloso e Jacques Morelenbaum. Em 2018, nove cidades receberam a versão operística de O Quatrilho (Caxias no dia 18 de agosto). A montagem, composta por Vagner Cunha, com direção cênica de Luís Artur Nunes e regência do maestro Antonio Borges-Cunha, neste ano tem a previsão de circular por outros estados – em 1990 o grupo caxiense Miseri Coloni já levara o texto ao teatro.
Na poesia, Pozenato estreou no livro Matrícula – ao lado de Jayme Paviani, Ary Nicodemos Trentin (1942-2002), Oscar Bertholdo (1935-1991) e Delmino Gritti, que compunham o grupo Reunião – em 1967. A partir da obra, os integrantes do grupo iniciaram suas carreiras literárias; à de Pozenato foram acrescidos os volumes, só de poesia, Vária Figura (1971), Carta de Viagem (EDUCS, 1981), Meridiano (vencedor da primeira edição do Concurso Anual Literário de Caxias do Sul, 1982), os poemas-textos de Estações, com fotografias de Ary Trentin e Aldo Toniazzo (EDUCS, 1985), a edição especial e limitada de Canti Rústeghi (EDUCS/ECIRS/Instituto Vêneto, 1993), e Mapa de Viagem (EDUCS, 2000, Coleção Spheras), que reúne 30 anos da produção poética do autor, acompanhada de uma fortuna crítica feita por Guilhermino César (1908-1993), Donaldo Schuler (1932), Rita Terezinha Schmidt e Eduardo Dall’Alba (1963-2013). “Embora venha me dedicando ao romance e à novela, que dão espaço maior para falar da sociedade em que vivo, continuo acreditando que certas experiências só podem ser expressas no formato do poema”, já disse uma vez. 

Matrícula foi reeditado em 2007, numa edição comemorativa aos 40 anos da publicação, organizada e apresentada por Flávio Loureiro Chaves e Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro. Treze pesquisadores da literatura regional analisam a importância da obra em diferentes abordagens e um consenso, resumido por Cecil Jeanine Albert Zinani e Salete Rosa Pezzi dos Santos: trata-se de “uma poesia inaugural”. A década de 1960 representa a inserção da produção literária do Rio Grande do Sul ao cenário brasileiro. A Região de Colonização Italiana no Nordeste do Estado se fez presente com Matrícula, “com o universo místico que tem na terra seu epicentro, se materializa nos versos dos poetas e encontra ressonância no leitor que reconhece no canto do poeta a sua verdade”, avaliam as pesquisadoras (2007, p. 15). De acordo com Schuler, “o grupo desencadeou um dos mais vigorosos movimentos do Estado” (in AUTORES GAÚCHOS, 1997). Para Cleodes, o Matrícula “foi uma célula que disseminou o que é hoje a nossa literatura, e levou-a além das fronteiras da região” (in PIONEIRO, 2017).

Pozenato contou, na ocasião, que se dedicou por mais de vinte anos a fazer e a publicar poesia. “Um exercício que considero ter sido fundamental para me familiarizar com as palavras, para conviver com elas, para não brigar com elas”, disse, em entrevista à jornalista Paula Sperb1. Na mesma entrevista, ele afirma que o grupo “queria uma poesia para fazer refletir, não como enfeite literário. Quando saiu a coletânea Matrícula, em 1967, fomos saudados, com crítica elogiosa, por Guilhermino Cesar e Manoelito de Ornellas em Porto Alegre, e por ninguém menos que Nelson Werneck Sodré no Rio”.
Como poeta, também exerceu o papel de tradutor. A tradução da obra de Francesco Petrarca, reunida em Cancioneiro (Ateliê/Unicamp), com prefácio de Armindo Trevisan, foi finalista do Prêmio Jabuti em 2015, em sua 58ª edição. Na época, revelou que tem “na gaveta” traduções de Ezra Pound, T.S. Elliot, Guillaume Appolinaire, Cesare Pavese, Guido Cavalcanti, de Giacomo (Jacopo Lentini) e Guido Guinizzelli, entre outros2. Leitor e admirador de Machado de Assis, membro da Academia Sul-Brasileira de Letras e da Academia Rio-Grandense de Letras, já recebeu várias distinções, como o Troféu Caxias na categoria Cultura (1986), os títulos de Cidadão Caxiense (1991), Personalidade do Livro, da Câmara Rio-Grandense do Livro (1995), e Patrono da Feira do Livro da cidade de Farroupilha (2009); o Prêmio Caxias, da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul (2015), e o Prêmio Reconhecimento Italiano da Serra (2015), oferecido pelo Grupo RBS para valorizar ações pela preservação da cultura italiana na região. (A partir de CESAR in 1997, nº 25; CHAVES, RIBEIRO, 2007; SCHULER in 1997, nº 25; SPERB, http://rascunho.com.br/palavras-para-mudar-o-mundo/1,2; jornal Pioneiro, 6/7 de maio de 2017; revista USP, nº 105, 2015)



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