No universo das histórias em quadrinhos, o nome de Alex Raymond (1909-1956) não é nem um pouco alienígena, mesmo entre quem não gosta muito de ficção científica, assim como na cena do romance policial noir dos anos 1930, da Lei Seca, dos crimes e das quadrilhas organizadas, DASHIELL HAMMETT se destaca nas prateleiras do gênero. O escritor estadunidense, nascido em 27 de maio de 1894, criador do irresistível detetive Sam Spade, aventurou-se pelas páginas dos jornais com o personagem X-9, um detetive durão no estio pulp fiction, para bater de frente com Dick Tracy, de Chester Gould (1900-1985), elogiadíssimo por ninguém mais, ninguém menos, que o cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993). Foi um dos últimos trabalhos de Hammett, que teria morrido “louco e destruído”. Ele escreveu a série entre 22 de janeiro de 1934 a 16 de novembro de 1935, para o Evening Journal – foram oito histórias ao total, embora o personagem tenha sobrevivido nas mãos de outros roteiristas e ilustradores, já que Raymond desistira para se dedicar a Flash Gordon, que havia criado no mesmo ano. De acordo com Álvaro de Moya, o personagem principal, “o elegante e inquietante Dexter [...], era muito próximo de Gary Cooper no filme policial City Streets” (1993, p. 83). Hammett, segundo Ruy Castro escreve no prefácio de O Falcão Maltês, publicado em 1930, tem uma linguagem “seca como um martini, exatamente como os seus personagens” (1984, p. 7). 
E já seria muito, caso não fosse da autoria do escritor a criação do detetive Sam Spade, o “moderno detetive americano”, continua Castro. O livro virou filme em 1941 (Relíquia Macabra, no Brasil), dirigido por John Huston; o nova-iorquino Humphrey Bogart (1899-1957) interpretou o detetive Spade, o filme concorreu a três categorias do Oscar (melhor filme, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro adaptado) e foi incluído no Registro Nacional de Filmes da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Mas não só na pele de Spade viveu Hammett: são dele também os personagens Nick e Nora Charles e o “sujeito sem nome, baixinho, meio careca, gordo e suarento” de Continental OP1, o herói de Colheita Sangrenta (1929). Suas obras refletem aspectos dos mais violentos em uma sociedade corrupta; os desdobramentos envolvem os personagens em uma luta pelo poder e pelo dinheiro2. Homem de ação, não só das letras, trabalhou como detetive particular antes da Primeira Guerra Mundial, de onde retornou doente; foi condenado à prisão em 1951, depois de envolver com a política de esquerda estadunidense desde 1934 e ser perseguido durante a “caça às bruxas” promovida pelo senador Joseph McCarthy (1908-1957) durante a Guerra Fria, que envolveu os Estados Unidos e a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), entre 1945 e 1991. Além de Colheita... seus outros romances são Maldição em Família (ou A Maldição dos Dain), Chave de Cristal (1931) e O Homem Sombra (1934), o último romance, originalmente publicado em folhetim, depois transposto para a televisão e o cinema. Seus livros tiveram diferentes edições no Brasil, entre Companhia das Letras, L&PM e Record – que em 2001 lembrou os 40 anos da morte do autor com Tiros na Noite, uma edição especial reunindo contos publicados a partir de 1923, principalmente na revista Black Mask, em sua maioria traduzidos por Heloísa Seixas. Morreu em 1961 e, dos 67 anos de vida, dedicou onze para escrever – “O resto ele ocupou bebendo, caçando, pescando, indo à guerra, sendo preso e lendo, mas principalmente bebendo”, resume Castro. Uma das justificativas seria o casamento com Lillian Hellman, que seria reconhecida como autora de sucesso, o que teria sido demais para Hammett...3 (A partir de GOIDA, 1990; CASTRO in HAMMETT, 19843, 1988, 20021; MOYA, 1993;  https://www.biografiasyvidas.com/biografia/h/hammett.htm1)



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