Nascido em 13 de maio de 1901, o poeta MURILO MENDES se tornou conhecido, primeiramente, pelas publicações em revistas do modernismo brasileiro, na década de 1920, em contato direto com o movimento antropofágico de Oswald de Andrade e, ao mesmo tempo, um dos escritores brasileiros com mais afinidade com a vanguarda artística europeia; um “inventor” agressivamente moderno, ao lado de Drummond e Guimarães Rosa (da segunda turma do modernismo, a Geração de 1930), de acordo com Alfredo Bosi (2000, p. 349). Com Manuel Bandeira, Jorge de Lima e Mário de Andrade, entre outros, passou “a ensaiar o verso metrificado” em alternância “com formas livres herdadas à renovação de 22” (BOSI, 2000a, p. 105). Defensor da liberdade política e estética, a crítica aponta para a forte tendência religiosa na poesia de Murilo: em 1934, o poeta converteu-se ao Catolicismo e integrou o chamado “grupo de poetas religiosos”, do qual faziam parte Cecília Meirelles, Vinícius de Moraes e Jorge de Lima, entre outros. Com Cecília, lograria “dar uma feição inequivocamente moderna a suas tendências religiosas” no grupo “espiritualista” que fazia parte da primeira edição da revista Festa, em 1927 (BOSI, 2000, p. 343). Mas, enquanto ela “parte de um certo distanciamento do real imediato”, Murilo é um poeta lírico “do ser e da presença (religiosa, erótica ou social)” (idem, p. 461) – em colaboração com Jorge de Lima e influências de Charles Péguy (1873-1914) e Paul Claudel (1868-1955), publicou Tempo e Eternidade (1935). Bosi (2000) destaca A poesia em pânico (1937), As Metamorfoses (1944) e Poesia Liberdade (1947) como os melhores livros de Murilo, pois neles o poeta deixa clara a perplexidade diante de um mundo todo errado. O livro Contemplação de Ouro Preto (1954), em que Murilo altera a linguagem e concentra-se nas antigas cidades mineiras e na atmosfera que as envolve, encerra um ciclo: a partir daí, o poeta fará uso de outros processos estilísticos, que irá derivar numa poesia mais despojada e, ao mesmo tempo, mais rigorosa. Em 1941, Murilo publicara O Visionário, “um livro plenamente muriliano”, onde o aprofundamento e essencialização da rebeldia de 1922 se fazem presente, conforme José Carlos Paes. Neste, Murilo irá utilizar “as virtualidades da interpenetração espacio-temporal que, de Joyce a Picasso, de Eliot a Stravinski, funda as poéticas da modernidade” (PAES, 1997, p. 173). Para o crítico Sebastião Uchôa Leite, em Tempo Espanhol (1959) ele muda “o paradigma poético” – de um retrato “descritivo” para um retrato “linguístico” – que terá desdobramento em Convergência (1970), onde o poeta “alcança a plenitude”, no entender de Ivan Junqueira (1993, p. 364). De forma geral, ele contribuiu, ao propor diálogos com outros escritores da época, para que os poetas que vieram depois dele continuassem a dar exemplos “da vitalidade de um entendimento moderno, lato sensu, da poesia como síntese de afeto e imagem, ritmo e pensamento” (BOSI, 2000, p. 488). No artigo “A meta múltipla de Murilo Mendes”, Sebastião Uchôa Leite chama a atenção para o “conturbado continente poético submerso, que surpreende pela atualidade” (2003), encontrado no conjunto de obras reunidas pela ensaísta italiana Luciana Stegagno Picchio em 1994, que identificou nos versos do poeta um “surrealismo lúcido” (in LEITE, 2003). Graças a ela se pode entender, antologicamente, a preocupação formal na poesia de Murilo e a ambivalente necessidade de desconstrução buscada pelo poeta – ao usar os recursos modernistas, cubistas, religiosos e, ainda, influências do concretismo. Ao morrer aos 74 anos em Portugal, no dia 13 de agosto de 1975, deixou alguns inéditos, publicados posteriormente tanto em Portugal quanto no Brasil (Ipotesi, 1977; A Invenção do Finito, 2002; e Janelas Verdes, 2003). (A partir de BOSI, 2000, 2000a; JUNQUEIRA, 1993; LEITE, 2003; PAES, 1997; RAMOS in  www.infoescola.com/escritores/murilo-mendes/; www.portugues.com.br/literatura/murilo-mendes.html)

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