A poeta OLGA SAVARY nasceu em 21 de
maio de 1933, em Belém do Pará. O primeiro livro, Espelho Provisório, foi publicado em 1970 e recebeu o Prêmio Jabuti
de Autor Revelação no ano seguinte à publicação. Em 1977, ganhou o prêmio da
APCA e do Jornal do Brasil (o melhor
livro de poesia do ano) por Sumidouro
(com desenhos de Aldemir Martins, 1977) e, dez anos depois, o Prêmio Artur de
Sales de Poesia, pela Academia de Letras da Bahia, pelo livro Berço Esplêndido (1987), que viria a
receber o Prêmio Internacional Brasil-América Hispânica em 2007.
Olga ainda recebeu outros prêmios: em 1981,
recebeu o Prêmio de Poesia Lupe Cotrim Garaude, da União Brasileira de
Escritores (UBE), pelo livro Altaonda,
publicado em 1979, com ilustrações de Calasans Neto; em 1983, o Prêmio Olavo
Bilac, da Academia Brasileira de Letras, por Magma (1982).
Publicou, ainda, Altaonda (com ilustrações de Calasans Neto, 1979), Magma (1982), Linha d´água (1987) e Retratos
(1989). O livro O olhar dourado do abismo
(1987), de contos, tem prefácio de Dias Gomes (1923-1999) e xilogravuras de
Rubem Grilo. Repertório Selvagem – Obra
Reunida, de 1998, contém 12 livros de poesia, mais apresentações e
prefácios escritos por Ferreira Gullar, Antonio Houaiss e Jorge Wanderley,
entre outros.
Foi contista, romancista, crítica, ensaísta e
tradutora. Seus poemas constam em antologias internacionais, como a Antologia de Poesia da América Latina,
editada em 1994 na Holanda, também organizou-as: Carne Viva – Antologia brasileira de poesia erótica (1984) e Antologia da nova poesia brasileira
(1992).
Escreveu para jornais e revistas brasileiras e
do exterior, e teve poemas musicados por Pedro Luiz das Neves (1961-2014); foi
tradutora de obras de autores hispano-americanos, como Jorge Semprúm, Julio
Cortázar, Mario Vargas Llosa, Otávio Paz, Pablo Neruda e Román Cano, e
japoneses, como Bashô, Buson e Issa.
Em 1985 representou o Brasil no Poetry
International, realizado na Holanda. Foi membro do PEN Club, associação mundial
de escritores vinculada à UNESCO, da Comissão de Defesa da Liberdade de
Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do
Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica. Além disso, foi presidente do
Sindicato de Escritores do Estado do Rio de Janeiro, em 1997-1998.
Foi escolhida “Mulher do Ano” pelo jornal O Globo, em 1975, e pela Secretaria
Municipal de Cultura de São Paulo em 1996, graças aos serviços prestados à
cultura nacional. Primeira mulher brasileira a publicar um livro só de poemas
eróticos (Magma), morreu em
Teresópolis (RJ), em 15 de maio de 2020, de uma parada cardíaca consequente do
covid-19, aos 86 anos.
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INSÔNIA
A
José Carlos Audíface Brito
Quero escrever um poema
irritado.
Quero vingar meu sono
dividido
(busco palavras que
interroguem essa alquimia
do poema, que vire a noite em
fogo vário
e a lua em pegada escondida
atrás do muro
– vagaroso desmoronar de
extinto vôo).
Quero um poema ainda não
pensado,
que inquiete as marés de
silêncio da palavra
ainda não escrita nem
pronunciada,
que vergue o ferruginoso
canto do oceano
e reviva a ruína que são as
poças d’água.
Quero um poema para vingar
minha insônia.
Rio
de Janeiro, março 1950
(Espelho Provisório)
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CICLOS
O poema inventa o silêncio,
o tempo é reinventado no
poema.
Esperemos o que virá
substituir a palavra silêncio.
Rio
de Janeiro, 1973
(Sumidouro)
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LUZ,
CÂMERA, AÇÃO
O poeta cria o sonho
compensando o que lhe falta
com o muito que lhe sobra.
(Retratos)
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SER
O sexo tão livre, natural,
obsessão de areia e seixos
rolados:
regresso à água.
(Magma)
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BOM
APETITE
Amor, minha paixão?
Veneno e antídoto bebido
no mesmo copo.
(Hai-Kais)
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NOME
II
Eu disse o nome do amor
muito sem cuidado.
Disse o nome do amor quase
por acaso.
Disse o nome do amor como
por engano.
Ainda assim
meu corpo ficou cheio como
um rio
da terra, o coração
habitando.
(Repertório selvagem)
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