O poeta RUBENS RODRIGUES TORRES FILHO é paulista de Botucatu, nascido em 6 de maio de 1942, com mais de 50 anos de atividade poética. Em 1963 publicou o primeiro livro de poemas, Investigação do Olhar (Massao Ohno). Dois anos depois recebeu o Prêmio Governo do Estado por Marcas de Água (1965) e, mais adiante, o Prêmio Jabuti, pelo livro O voo circunflexo (1981). Em 1985, publicou A letra descalça, em que incluiu poemas antes divulgados em jornais culturais. Poros é de 1989, Retrovar, de 1993, e Novolume, de 1997, compilação dos livros, alguns poemas inéditos e traduções, e Poemas novos, escritos entre 1994 e 1997. Seus poemas fazem parte de antologias, como Artes e ofícios da poesia, organizada por Augusto Massi (1991) e Antologia poética da geração 60, organizada por Alvaro Alves de Faria (2000).
Participou, nos anos 70, da criação da revista Almanaque: cadernos de literatura e ensaio. Foi professor de História da Filosofia Moderna e Filosofia Alemã Clássica (USP) entre 1965 e 1994, e traduziu uma série de textos filosóficos, de Novalis, Walter Benjamin, Nietzsche, Theodore Adorno, Schelling e Johann G. Fitche (objeto de estudo para o doutorado, concluído em 1972, virou livro em 1975, O Espírito e a Letra: a Crítica da Imaginação Pura em Fitche); alguns dos autores traduzidos fazem parte da coleção Os Pensadores, da Abril Cultural.
Além do livro sobre Fitche também publicou Ensaios de filosofia ilustrada (1987) e diversos artigos em revistas acadêmicas, como Porque Estudamos? (1991), Redondezas do Divino (1987) e A terceira margem da filosofia de Kant (1993).


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intimidade

Por tudo isso que se esvazia e se corrompe
minha amizade é profunda. Calo
dentro de mim vazios e intermitências
e ainda, no mesmo gênero, toda espécie de claridades.
Não lhes dou voz. Em troca
são mansos, não dão trabalho
e às vezes quando assim assediados revelam finalmente
seu  lado cúmplice. É sempre assim.

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EM RESPOSTA À PERGUNTA: SE DÓI

É verdade ou ao que isto tudo tem a ver? O que acontece
e o que esquece. Obras e sobras e dobras. É preciso e impre-
ciso que assim seja. Ligas e liames. Vamos enfim tentar dar
a isto um certo tom. Pois no fim é musicalmente que senti-
mos. Hoje ninguém põe fé em nada tipo razão. Mas os sem-
tidos (qualquer dos sentidos) é melhor despertos que não.
Um dia se dirá. Linguagem. Dói.

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MATÉRIA-PRIMA

Esta palavra contém
um poema
este poema não
contém palavras. Uma
palavra
e
outra
dançando a ciranda
compondo o
colar
Dou-te o colar
queres as contas
que são as contas
sem o colar
Palavra água
palavra sede
feliz encontro
onde bebemos
sem freio

* * * * *

DESENVOLTURAS


Nós nos queremos bem: ah que derrama,
que hemorragia de sentimentos!
Irmãos! Que almas transparentes temos!
O chão nos foge sob os pés, tão leve.
Podemos olhar pelos avessos
que é tudo luz. O bem que nos queremos
nos santifica até os intestinos.
Que vísceras de vidro! Que evidência!
Meu pênis se eletriza – é um travessão! Um hífen!
Um traço-de-união entre duas almas
tão juntas, tão aninhadinhas
uma na outra que dá gosto e enlevos.
Nos sabemos de cor, rosto e relevos.
Tudo nos dança: umas fosforescências
embevecidas lambem nossos beiços
e um simples esplendor nos satisfaz!

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