CHACAL é Ricardo Carvalho Duarte, nascido em 24 de maio de 1951 no Rio de Janeiro, foi um dos primeiros poetas da década de 1970 a usar o mimeógrafo para divulgar poesia. Vendia em pequenas tiragens de 100 exemplares nas ruas do Rio de Janeiro, como o livreto Muito prazer, Ricardo (1971) e o “envelope-bomba” Preço da Passagem (1972), depois reunidos em Drops de Abril¸ de 1983, somados aos poemas de América (1975) e outras publicações de Boca Roxa (1979). As crônicas publicadas nos jornais Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense, foram reunidas em Comício de Tudo – Poesia e Prosa (1986), novos poemas de Letra Elétrika (1994), Posto Nove (1998), A vida é curta pra ser pequena (2002), a antologia Belvedere (2007, que marcou os 35 anos de carreira e estava acompanhado de uma edição fac-símile de Quampérius), o romance autobiográfico Uma história à margem (2010), outras poesias em Seu Madruga e eu (2015) e, em 2016, Tudo (e mais um pouco), onde reúne 15 livros de poesia e uma peça teatral autobiográfica.
Conhecido integrante da “geração marginal” ou “geração mimeógrafo”, fruto da contracultura dos anos 60, foi incluído na importante antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda em 1975. Na década de 1980, Chacal trabalhou com grupos de teatro, música e dança; escreveu Aquela coisa toda, para o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, e Recordações para o futuro, para o grupo Manhas & Manias (com quem participou da criação do Circo Voador, movimento que mudou os rumos da cultura brasileira). Escreveu letras de músicas para Patrícia Travassos e Evandro Mesquita, da banda Blitz (criada em 1982).
Ao lado de Bruno Levinson e Guilherme Zarvos criou, em 1990, o CEP 20.000 (Centro de Experimentações Poéticas), espaço que agregava poetas e artistas a fim de agitar a vida política e cultural da capital carioca. Ao completar 25 anos de existência, em 2015, o projeto passou às mãos de um grupo de um grupo de jovens poetas surgidos do próprio palco do CEP 20.000
Inspirada no poema Relógio (em Drops de Abril, p. 62), a dupla estadunidense Sofi Tukker lançou a canção “Drinkke”, em 2016, cantada em inglês e português, indicada para o 59ª Grammy Award como Melhor Gravação de Dança (2017) – confira em www.youtube.com/watch?v=dlF1KxArCg.

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RÁPIDO E RASTEIRO


vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida


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O OUTRO

só quero
o que não
o que nunca
o inviável
o impossível

não quero
o que já
o que foi
o vencido
o plausível

só quero
o que ainda
o que atiça
o impraticável
o incrível

não quero
o que sim
o que sempre
o sabido
o cabível

eu quero
o outro


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UMA OUTRA

se você acha que morar num apê
encardido we abafado rua Siqueira
campos um cabeça de porco botar
gravata todo dia para ir de ônibus
trabalhar na rua senador Dantas e
quando pinta tempo e grana batalhar
uma trepada se você acha que dormir
puto e acordar puto é uma eu já acho
é outra.

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NA PORTA LÁ DE CASA


Na porta lá de casa
 Na porta lá de casa
tem dizendo lar romi lar
uma bandeira de papel
na porta lá de casa
as crianças passam
e se atiram no chão
e se olham por dentro
das bocas das palavras
na falta de qualquer espelho
na porta lá de casa
passa o amor o calor
de cada um que passa
na porta lá de casa.




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