O poeta RAIMUNDO CORREIA (Raimundo da Mota de Azevedo Correia) nasceu em 13 de
maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de
Mogúncia (MA).
Sua estreia na literatura se
deu com o livro Primeiros sonhos
(1879), sob a influência dos românticos Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e Castro
Alves. Em Sinfonia (1883), onde
encontramos um de seus mais conhecidos sonetos, “As Pombas”, flerta com o
parnasianismo de Alberto de Oliveira e Olavo Bilac – forma-se, então, a Tríade
Parnasiana –, embora mais pessimista; nos escritos posteriores irá se aproximar
do simbolismo – nos livros Versos e
Versões (1887), Aleluias (1891) e
Poesias (1898).
Faz parte da Academia
Brasileira de Letras (ABL) e sua poesia está reunida em pelo menos três
coleções – organizadas respectivamente por Múcio Leão (em 1948), Valdir Ribeiro
do Val (em 1961), Telenia Hill (2001) e por Claunísio Amorim Carvalho (2012).
Além de dedicar-se à
carreira de escritor – revelada também em críticas, crônicas e ensaios –, também
foi magistrado, professor e diplomata. Faleceu em Paris, França, em 13 de
setembro de 1911, onde fora tratar-se da tuberculose. Seus restos mortais só
foram trasladados para o Brasil em 1920, junto com os do poeta Guimarães Passos,
por iniciativa da ABL.
* * * * *
MAL
SECRETO
Se a
cólera que espuma, a dor que mora
N’alma,
e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo
o que punge, tudo o que devora
O
coração, no rosto se estampasse;
Se
se pudesse, o espírito que chora,
Ver
através da máscara da face,
Quanta
gente, talvez, que inveja agora
Nos
causa, então piedade nos causasse!
Quanta
gente que ri, talvez, consigo
Guarda
um atroz, recôndito inimigo
Como
invisível chaga cancerosa!
Quanta
gente que ri, talvez existe,
Cuja
aventura única consiste
Em
parecer aos outros venturosa!
(Sinfonias,
1883)
* * * * *
O
MISANTROPO
A
boca, às vezes, o louvor escapa
E o
pranto aos olhos; mas louvor e pranto
Mentem:
tapa o louvor a inveja, enquanto
O
pranto a vesga hipocrisia tapa.
Do
louvor, com que espanto, sob a capa
Vejo
tanta dobrez, ludíbrio tanto!
E o
pranto em olhos vejo, com que espanto,
Que
escarnecem dos mais, rindo à socapa!
Porque,
desde que esse ódio atroz me veio,
Só
traições vejo em cada olhar venusto?
Perfídias
só em cada humano seio?
Acaso
as almas poderei sem custo
Ver,
perspícuo e melhor, só quando odeio?
E é
preciso odiar para ser justo?!
(Versos
e versões, 1887)
* * * * *
AS
POMBAS
Vai-se
a primeira pomba despertada...
Vai-se
outra mais... mais outra... enfim dezenas
De
pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia
sanguínea e fresca a madrugada...
E à
tarde, quando a rígida nortada
Sopra,
aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando
as asas, sacudindo as penas,
Voltam
todas em bando e em revoada...
Também
dos corações onde abotoam,
Os
sonhos, um por um, céleres voam,
Como
voam as pombas dos pombais;
No
azul da adolescência as asas soltam,
Fogem...
Mas aos pombais as pombas voltam,
E
eles aos corações não voltam mais...
(Sinfonias,
1883)
Comentários
Postar um comentário