De acordo com o crítico Alfredo Bosi, ele é um emblema da geração de poetas líricos “dita marginal”, ao lado de Ana Cristina César (1952-1983). Cacaso nasceu Antônio Carlos Brito em 13 de março de 1944, em Uberaba, Minas Gerais, mas mudou-se para o Rio de Janeiro, aos 11 anos.
Mais tarde, colaborou com revistas e jornais da cena alternativa, como Opinião e Movimento. Formou-se em Filosofia, foi professor de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira na PUC-RJ e teorizou sobre o cenário poético contemporâneo da época – com alguns deles, participou da coletânea 26 poetas hoje (1975), organizada por Heloísa Buarque de Holanda, com quem escreve o artigo “Nosso pé quebrado”, em que abordam o movimento poético de então.
O primeiro livro foi publicado em 1967, A palavra cerzida, que o colocou como integrante da geração pós-vanguarda, segundo o crítico José Guilherme Merquior. Seguiram-se mais cinco livros (até Mar Mineiro¸ de 1982) e algumas reedições, além de participar da obra 3 poetas, com Eudoro Augusto e Letícia Moreira, publicada em 1979, em Lima, no Peru.
Em 1997, a UNICAMP/UFRJ editaram uma coletânea de ensaios, poemas inéditos, crônicas e artigos de jornais, intitulada Não quero prosa, organizada por Vilma Arêas. Em 2002, a 7Letras e a Cosac & Naify reuniram os poemas publicados e outros inéditos no livro Lero-Lero (1967-1985), coleção Ás de Colete, acompanhada de uma edição especial de Na corda bamba, originalmente publicado em 1978, com desenhos do filho Pedro Landim, então com sete anos.
Cacaso escreveu, ainda, textos em prosa, crítica literária, resenhas, artigos, ensaios e letras de música – em parceria com Egberto Gismonti, Tom Jobim, Nelson Angelo, Toninho Horta, Edu Lobo, João Bosco e João Donato, entre muitos outros, que foram objeto de uma dissertação de mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Sua morte, em 27 de dezembro de 1987, foi provocada por um infarto no miocárdio, num período em que desenvolvia um roteiro sobre Canudos, com Edu Lobo e o cineasta Ruy Guerra. Os poemas de “Auto de Canudos” (nunca publicados) serviram como base para o filme de animação digital Cidadelas, dos jornalistas Renato Fagundes e Paulo Mussoi, produzido em 2002.

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UM HOMEM SEM PROFISSÃO

JÁ QUE ANDAVA À-TOA RESOLVI FAZER UM POEMA
AGORA FAÇO PRA FICAR À-TOA

(de Na corda bamba, 1978)

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CONVÍVIO

a conversa corre animada os amigos se
estimam se
reconhecem transborda calor humano na sala

aos poucos
todos ficam pensando como será daqui a pouco
o enterro de cada um

(de Mar de Mineiro, 1982)

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IDADE MADURA

Meu coração anda inquieto e sufocado como
na infância
nas noites de tempestade. É risonho meu futuro?
Minha solidão é indescritível.

(de Segunda Classe, 1975)

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DESTRUIÇÃO

Onde jaz o crisântemo
o mistério tem raiz:
Flor, ou haste envenenada,
aqui celebro meu fim.

No território inconteste
sou alimento e fome.
A gula então extinta
é o objeto de antes.

Canteiro: onde plantado
já não crescem os cabelos
ou mar que pressentimos.

Onde o tempo é uma espada
ruminamos ferozmente
a idéia de acabar.

(de A palavra cerzida, 1967)

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POLÍTICA LITERÁRIA

O poeta concreto
discute com o poeta processo
qual deles é capaz de bater o poeta abstrato.

Enquanto isso o poeta abstrato
tira meleca do nariz.

(de Grupo Escolar, 1974)

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SINA

o amor que não dá certo sempre está por
perto

(de Beijo na Boca, 1975)

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GENEALOGIA

A gente é o pai da gente

(de Inéditos & outros, 2002)


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