PAULO
COLINA é poeta, prosador e ensaísta,
nascido Paulo Eduardo de Oliveira, em Colina, município paulista, no dia 9 de
março de 1950. Fez parte do grupo fundador dos Cadernos Negros (1978) e do coletivo Quilombhoje (1980), ao lado de
Oswaldo de Camargo e Abelardo Rodrigues, que formaram o Triunvirato.
O primeiro livro é de contos – Fogo Cruzado (1980) – mas logo depois
publicou as coletâneas de poemas Plano de
Voo (1984), A noite não pede licença
(1987) e Todo o fogo da luta (1989).
Para este ano, a Ciclo Contínuo Editorial prevê o lançamento de Poesia Reunida, com apresentação de
Oswaldo de Camargo.
Colina traduziu diversos poetas
japoneses para o português, entre eles Takuboku Ishikawa (1885-1912), com Masuo
Yamaki, Bokusui Wakayama (1885-1928) e Akiko Yosano (1878-1942). Também é dele Ulysses – Anotações para minha aula sobre
Joyce: Ulysses – Notes from here to my Joyce Class, Poemas de Wole Soyinka (dramaturgo africano que ganhou o Nobel de
literatura em 1986) e Canção da cidade
noturna. Night song city, de Denis Brutus, em 1986.
Ainda em 1986, organizou o volume AXÉ: antologia contemporânea de poesia negra
brasileira, melhor livro de poesia do ano pela Associação Paulista de
Críticos de Artes (APCA), que reúne 14 poetas afro-brasileiros, entre eles o
gaúcho Oliveira Silveira (1941-2009) e o mineiro Adão Ventura (1946-2004).
O poeta morreu prematuramente em 8 de
outubro de 1999, antes de completar 50 anos, vitimado pelo mal de chagas.
Deixou vários inéditos, entre eles Águas
fortes em beco escuro, uma reunião de ensaios.
* * * * *
Sentinelas
Eram
três
e era noite.
Eram
três
e me
cercaram.
Era
noite
e
seca a lâmina fina.
Três
pivetes,
meninos
sem nome.
Três
afluentes do meu sangue.
(em Plano de Voo, 1984)
* * * *
*
Oferenda
É
certo:
ascendentes
presenças não se distanciarão
nunca
um
dedo além do meu ego.
E
todo o ruído da ruas
nada
mais é que um emergente sussurro
quilombola.
Igual
que as pancadas pluviais de verão,
é
impossível prever, com segurança, quando
o
banzo desabará sobre mim.
Mas
sigo me desanuviando.
Em
mim, sempre é verão
(âmago
abrasivo transpirando, irriquieto,
toda
sorte de desejos e lutas).
Os
tambores que persistem nas noites
dos tempos
não
embalam simples recordações: -
há
que se recriar paciente
nosso
universo turvo.
Meus
músculos estão todos prontos.
Se
quiser, mulher, começamos já.
(em A noite não pede licença,
1987)
* * * * *
Nação
Há este arfar gordo:
batidas pontuadas de pés no chão.
Não nos cabe agora o cão das
salivas,
o fel que navega de tempos em
tempos
por nosso território.
Não nos cabe agora o bisturi
das dúvidas
Este o momento de desatar nós
internos
com nossas canções.
Onda negra de rostos contra o sol.
E essa cerca colorida de arcos
de berimbau
em movimento.
Resistir jamais será um equívoco.
(em Todo o fogo da luta,
1989).
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