DOLORES MAGGIONI nasceu em Farroupilha (RS) no dia 14 de dezembro de 1940. Autora premiada em diversos concursos literários, publicou o primeiro livro em 1981, Cantigas de um tempo intocável – ao todo, são 15 livros, mais CDs (a coletânea Labirinto, entre outros) e LPs (entre outros, Do tempo ao coração) com poemas recitados por ela Participa de diversas antologias e coletâneas, no Brasil e também em outros países, entre elas o livro Poetas da La Humanidad, em homenagem ao poeta espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936).

Pós-graduada em História das Artes, também ocupou o cargo de diretora do Departamento de Cultura da Prefeitura de Farroupilha e foi assessora cultural da Escola Província de São Pedro, em Porto Alegre. Integra academias literárias do país e do exterior, é membro Ad Honorem do Centro Cultural e Artístico A Gazeta de Felgueiras (Portugal) e Membro Simpatizante do Centro Europeu para a Promoção das Artes e das Letras (França).

* * *


ADDAGIO SEM MOTIVO


(timidez carcomida)

Oscar Bertholdo


Cessou há pouco em mim

a causa de eu fazer poemas.

Na relutante adolescência

do addagio de Beethoven

me sinto de um jeito tão só

como ninguém ainda esteve.

A sonoridade leve

me diz, de forma calada,

– sou só como o não ser nada.

No addagio de Beethoven

a doce insistente cantiga

esculpe esta incrível fadiga

sem formas e sem contornos...

renova a saudade esquecida

em distanciados dias mornos.

Não tenho planos ou esquemas.

Persistem todos os temas

que ontem me impulsionaram

mas, as vertentes secaram

tornando árida a fonte

de eu querer fazer poemas.

Eu hoje tão me sinto tão só

meus ouvidos mal escutam

as cadências que resolvem,

que entorpecem e me envolvem

no adaggio de Beethoven.

Me sinto mesmo perdida

sem entusiasmo ou vida

ou morte material

sonora espiral errante

amnésico pensante

de um caminho irreal.

Sozinha como o ser nada

jogada assim displicente

no assoalho ardente

das areias da lagoa.

Sequer a mágoa magoa

Na quieta manhã seguinte

Que explode em riso aberto.

Sequer um sonho por perto,

Nada de feio ou útil,

Um alguém que sobrevive

E de um jeito indiferente

Se sente só e inútil.

Nenhum impulso vital.

Nem sequer um sonho louco

estremecendo ao final

da timidez carcomida.

os vagalumes da espera

se apagaram pouco a pouco

em coesão suicida.

E... o adágio de Beethoven

me diz, de forma sentida.

– Nos descalços pés magoados

desta descalça escalada

tudo o que sobrou da vida

ficou por dentro do nada.


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