OLAVO BILAC
foi poeta, jornalista e inspetor de ensino. Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 16 de dezembro de 1865, e foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL) – criou a cadeira nº. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias. Seu primeiro livro é de 1888, Poesias, quando o Parnasianismo já estava estabelecido como um movimento literário – ainda assim, tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, a Tríade Parnasiana.

Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º ano. Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. Teve intensa participação na política e em campanhas cívicas, das quais a mais famosa foi em favor do serviço militar obrigatório. Fundou vários jornais, de vida mais ou menos efêmera, como A CigarraO MeioA Rua. Na seção “A Semana” da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante anos. É o autor da letra do Hino à Bandeira.

Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve na década de 1880 a sua fase mais fecunda. Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. Nas duas primeiras décadas do século XX, seus sonetos eram decorados e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na época. Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos de Via Láctea e a “Profissão de Fé”, na qual codificou o seu credo estético, que se distingue pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela simplicidade como resultado.

Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é expressão o poema “O caçador de esmeraldas”. Bilac foi, no seu tempo, um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-Fon lançou em 1º de março de 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro. Foi notável conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e produziu também contos e crônicas, e ficou conhecido por seu interesse pela literatura infantil.

Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi um dos perseguidos por Floriano Peixoto. Teve que se esconder em Minas Gerais, quando frequentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio, foi preso. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposentou, pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomáticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916, fundou a Liga de Defesa Nacional.

Em pouco mais de 50 anos de vida, teve intensa participação na vida cultural e cotidiana do Rio de Janeiro – além da atuação como inspetor de ensino, cargo altamente cobiçado à época, foi o primeiro motorista a sofrer um acidente de carro no Brasil.

Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac, professor honorário da Universidade de São Paulo (USP), faleceu no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1918. No ano seguinte foi publicado o livro Tarde.

* * *



PROFISSÃO DE FÉ


Invejo o ourives quando escrevo:

            Imito o amor

Com Ele, em ouro, o alto-relevo

            Faz de uma flor.


Imito-o. E, pois nem de Carrara

            A pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,

            O ônix prefiro.


Por isso, corre, por servir-me,

            Sobre o papel

A pena, como em prata firme

            Corre o cinzel.


Corre; desenha, enfeita a imagem,

            A ideia veste:

Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem

            Azul-celeste.


Torce, aprimora, alteia, lima

            A frase; e enfim,

No verso de ouro engasta a rima,

            Como um rubim.


Quero que a estrofe cristalina,

            Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina

            Sem um defeito:


E que o lavor do verso, acaso,

            Por tão sutil,

Possa o lavor lembrar de um vaso

            De Becerril.


E horas sem conta passo, mudo,

            O olhar atento,

A trabalhar, longe de tudo

            O pensamento.


Porque o escrever – tanta perícia,

            Tanta requer,

Que ofício tal... nem há notícia

            De outro qualquer.


Assim procedo. Minha pena

            Segue esta norma,

Por te servir, Deusa serena,

            Serena Forma!


* * *


VIA LÁCTEA


Ora, direis, ouvir estrelas, certo

Perdeste o senso, e eu vos direi, no entanto

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto


E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto

Cintila; e, ao vir do Sol, saudoso e em pranto

Inda as procuro pelo céu deserto


Direis agora: Tresloucado amigo

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?


E eu vos direi: Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas


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