O poeta PAULO HENRIQUES BRITTO nasceu no dia 12 de dezembro de 1951 no Rio de Janeiro (RJ), onde ainda mora. Durante alguns anos (1962-1964, 1972-1973) residiu nos Estados Unidos. Publicou Liturgia da Matéria em 1982; seu mais recente livro de poesia é Nenhum Mistério (2018) – ao todo, são nove livros de poemas.

Em 1983, com Trovar Claro, recebeu o Prêmio Alphonsus de Guimarães, da Fundação Biblioteca Nacional, e com Macau (2003), o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira (hoje Prêmio Oceanos).

É autor dos livros de contos Paraísos Artificiais (2004) e Eu quero é botar meu bloco na rua (2009), este a partir do disco homônimo de Sérgio Sampaio (1947-1994), em que aborda o Tropicalismo.

Traduziu mais de 100 livros, como O som e a fúria, de William Faulkner (1897-1962) e Beppo, de Lord Byron (1788-1824), além de Emily Dickinson, Allen Ginsberg, James Baldwyin e Thomas Pynchon.

Mestre em Letras pela Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) em 1982, recebeu o título de Notório Saber da instituição em 2002 – onde atuou como professor por mais de 40 anos.


* * *



Era o primeiro de muitos,

dos muitos que haviam de vir,

mas isso você não sabia.

Por ser o primeiro, tinha

que ser o único, o último

e ótimo, mesmo se péssimo.

(Estava bem longe o décimo.)

Remédio definitivo

pra dores apenas sonhadas,

era certo, bom e bonito.

Era tudo que você sabia

que sabia. E não era nada.


* * *


ESSE ROSTO QUE ME OLHA


Esse rosto que me olha de esguelha

(talvez para não ser reconhecido)

não é o mesmo que ontem vi no espelho,


o rosto familiar de um velho amigo

que desde sempre eu via à minha frente

e que no entanto agora anda sumido.


Não. Este novo é um rosto diferente,

de quem está ali a contragosto,

só por honra da firma, e se ressente


da obrigação de refletir um rosto

que – fora um ou outro aspecto físico

que nada significa – é o seu oposto.


(Um dos dois rostos é um impostor, no mínimo.

Um dos dois vai ouvir: Pára com isso,

porra. É com você mesmo, seu cínico.)


* * *


MATERIAIS


A utilidade da pedra:

fazer um muro ao redor

do que não dá para amar

nem destruir.

A utilidade do gelo:

apaga tudo que arde

ou pelo menos disfarça.


A utilidade do tempo:

o silêncio.


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