O poeta MARCELO SILVA, nascido em 3 de dezembro, em Porto Alegre (RS) publicou A matéria inacabada das coisas (2020) e O que carrego no ventre em 2019. Em 2015 participou da coletânea Cantos Seletos (Literacidade).

Professor de Literatura e Língua Portuguesa, mantém a página DeSalinhado (no Facebook) e é o criador da oficina A poesia é um atentado celeste. Publica poemas e contos em diversos sites e revistas dedicadas à literatura.


* * *



Não me chame, aos berros, de amor

para que o vizinho não veja

a morte dentro das vozes

pacíficas que ressoamos

o rancor metálico

se distendendo no ar


Não me chame de amor

para que o céu não fique imóvel

ferido em seus azuis


Não me chame de amor

Não nos chamemos de amor

como quem esconde o aço

debaixo das unhas

dúzias de corpos

enterrados no jardim


Tenhamos cuidado com o vento

e a saúde do cão

 

Me chame apenas pelo que sou

e deixe o verão

cuidar da nossa carne em chamas


* * *


MANDINGA


Desejo escrever um poema

de dez minutos e alguns segundos

um grande poema dos séculos

um grande poema preto

um homem poema de unhas grandes

e negras


Um poema para limpar da boca a era da técnica

pra sujar a boca com o gosto do barro

cutucar o dente até sair sangue

uma mandinga

filha da pressa e da preguiça

Negativa de Angola contra o capital


O poema não tem solução

cresce dos murros que recebe

transforma a raiva em ferro

arremessa versos

contra os muros do mundo


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