MANUEL BATISTA CEPELOS nasceu em Cotia (SP), em 10 de dezembro de 1872. Poeta, teatrólogo e romancista, foi carroceiro, garçom e soldado. Começou com a publicação de A derrubada, em 1895. Em 1902, escreveu O cisne encantado. Em 1906, Os Bandeirantes, obra prefaciada por Olavo Bilac, sendo reconhecido, então, como autor parnasiano. A coletânea Os corvos foi publicada em 1907, e Vaidades, em 1908, apresenta traços simbolistas. Pode ser lido, também, em 60 poetas trágicos (2016), organizado por Sérgio Faraco.

Em 1910, escreveu O vil metal, romance de cunho naturalista. A peça de sua autoria, Maria Madalena, teve sua estreia no ano de inauguração do Teatro Trianon (1915), pela Companhia de Cristiano de Souza. Tentou por três vezes, sem êxito, ingressar na Academia Brasileira de Letras. De acordo com José Paulo Paes, é dele a primeira tradução, para livro, de poemas de Stéphane Mallarmé, em 1901; também traduziu Francisco de Góngora e Paul Verlaine.

Em 1983 mudara-se para a capital paulista em 1893, onde assentou praça na Força Pública, Corpo Municipal Permanente. Em 1902, bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais. Seus estudos foram financiados pelo senador Peixoto Gomide; a convivência com a família fez com que se apaixonasse pela filha do senador, que, contrário ao relacionamento dos dois, matou a própria filha e a seguir suicidou-se.

Deprimido, Cepelos mudou-se para o Rio de Janeiro. Foi encontrado morto junto às pedras da praia, no Catete, sem saber-se ao certo se foi acidente (era míope) ou suicídio, em 8 de maio de 1915. Seu nome também é grafado como Batista Cepelos, Baptista Capellos e Baptista Cepellos

* * *


ECCE HOMO


Trazendo à Natureza uma pujança brava

A doirada razão do viço e da alegria,

Dispersada por tudo, a Vida triumphava,

Enquanto o sol, por toda a esphera, ria… ria…


Ria de flor em flor; no insecto que passava,

Ria; nas virações, no azul, na pedra fria,

No pássaro gentil, na furna esconsa e cara,

Ria; por toda a parte, em summa, ria… ria…


E o Rei da Creação, o Homem, passado e lento

Cravou o olhar no céu, numa grande tristeza,

Que era a sombra talvez de um grande pensamento…


E, alto, na solidão, que lhe augmentava o porte,

Em meio às expansões joviaes da Natureza,

Elle tinha na fronte a pallidez da morte…


* * *


O SAMBA


Na noite em que algum santo se festeja,

Junto à fogueira, o samba principia,

Logo o pandeiro elástico estrondeja,

Ronca e muge o tambor, numa porfia.


Que extravagante, singular peleja:

Êste, rapidamente rodopia;

Aquele, desconjunta-se e rasteja,

Numa parafusante cortesia.


E, em lânguido meneio, as raparigas,

Agitando os vestidos encarnados,

Cantarolam estridulas cantigas.


E, no ardor da frenética loucura,

Os pares, em pinotes compassados,

Veia juntando cintura com cintura.


* * *


OLHAR


Não me olhes assim, de tão suave maneira,

A luz do teu olhar caindo na minh’alma

É como um rio azul de sempiterna calma

De quem já desfolhou a Ilusão derradeira.


Não me olhes assim. Olha-me a vida inteira.

E num sonho feliz em um mundo de calma

Eu sonharei feliz na sempiterna calma

De quem já desfolhou a Ilusão derradeira.


Olha-me sempre assim. Teu olhar me abençoa.

À luz do teu olhar eu me julgo vogando

Por um rio d’anil que murmura e que desce…


Olha-me sempre assim. Olha-me a vida inteira.

À luz do teu olhar eu me vou libertando

Do minuto que passa e do tempo que voa.


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