A poeta MARIAJOSÉ DE CARVALHO nasceu em São Paulo, no dia 27 de junho de
1919. Formada em canto, piano e violino, em geografia e história, publicou o
primeiro livro de poesia em 1950, intitulado Poemas da noite amarga. Vieram mais cinco obras, entre elas Lunalunarium (1976), Romance de Lampião, com ilustrações de
Aldemir Martins (1986) e Os celebrantes,
ilustrado por Darcy Penteado, publicada em 1988 na Coleção Cadernos de Arte e
Poesia, pela Roswitha Kempf Editores.
Mariajosé também foi editora.
Fundou a editora Papyrus e publicou, entre outros, transcriações de Haroldo e
Augusto de Campos em Traduzir e Trovar,
além de dois livros seus, Aurum et Niger
e Neomenia. Foi tradutora, e, entre
os livros que traduziu estão As canções
de Bilitís, de Pierre Louys (em 1984) Sonetos
de Espanha (em 1985), Cantos, de
Giacomo Leopardi (em 1986) e Poema do
cante jondo, de Federico García Lorca (em 1986).
Nas artes cênicas, tornou-se
profissional reconhecida desde que ingressou no Grupo Universitário de Teatro, entre
1943 e 1948, onde atuou ao lado de Cacilda Becker, e depois do corpo docente da
Escola de Arte Dramática (EAD). Estudou na Itália, na Academia Dramática Silvio
d’Amico, em Roma, como bolsista do Ministério da Educação, e participou
ativamente de movimentos de renovação cultural. Como musicista, fez parte do
grupo do Coral Paulistano, participou do movimento vanguardista Ars Nova
(1954-1958).
A casa onde morou, e todo
seu acervo cultural, pertence à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, e
hoje é a Casa Mariajosé de Carvalho. A poeta, tradutora, cantora e diretora
teatral morreu em outubro de 1995.
Que ânsia...
que
ânsia imemorial atrai os corpos
de
ambarina e amavios impregnados
ossos
tendões e carne e sangue nervos?
que
impacto os enlouquece tange anula?
que
plectro ou lançadeira ou sábia lâmina?
e
exangues ao cansaço os abandona?
phallus
vulva os seios mãos e boca
e a
pele esse tecido permeável
são
instrumentos de urdir tecer
e a
estrutura imantada aniquilada
é
deliquo amplo vôo queda a pique
num
abismo do fogo gelo e nada
* * * * *
m a
n t o e a m i a n t o
c a
n t o e a g a p a n t o
p r
a n t o e a c a n t o
m a
r d e a m a r a n t o
(em Neomenia, 1968)
* * * * *
o horto
ouro
prata e azul
no
verde horto
resplandeces
em
tuas finas
delicadas
mãos
recebes
a taça
licor
de cereja
o filtro
que
celebra esta noite
de
vigília d’armas
casta
límpida
no
carro de corças
vaga
em campo de aço
a
deusa
os
braços em colar
em
teu colo
a
fronte em tua fronte
por
nove nomes a invoco
lua
hécate
febe
tânit
ishtar
astarté
selene
ártemis
diana
silêncio
êxtase
(em Lunalunarium, 1976)
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