Foto Reprodução
Poeta, contista,
cronista, compositora, cantora e musicista, DENISE EMMER nasceu em 18 de junho de 1958. Em 1975, aos 17 anos, a
primeira publicação de poemas, Geração
Estrela, apresentada pelo poeta e editor Moacyr Félix (1926-2005); seus
próximos cinco livros preencheram a década de 1980 e chamaram a atenção do tradutor
e crítico Ivan Junqueira (1934-2014), que reconheceu em Denise “um dos maiores
poetas de sua geração”. Em 1987, ela recebeu o prêmio Guararapes e, em 1988, o
de Autor Jovem, ambos da União Brasileira de Escritores (UBE), fechando a
década.
Durante os anos 90,
paralelamente à publicação de três novos livros de poemas, Denise conquistou
outros prêmios, inclusive pelo romance O
Insólito Festim e pelo conjunto de obra (o José Marti/UNESCO (ambos em
1994). Nos anos 2000, publicou a Poesia
Reunida (2002) e Memórias da Montanha
(2006), conquistou os prêmios Yeda Schmatz (2004) e o José Picanço Siqueira
(2007), ambos da UBE, foi homenageada
na 2ª Festa Literária de Divinópolis (MG) em 2015, quando autografou o livro Poema Cenário e Outros Silêncios – nele
está incluído, “Lampadário”, poema-título do livro editado em 2008 (também em
Portugal), que lhe concedeu o Prêmio Cecília Meirelles de Poesia, da União
Brasileira de Escritores, em 2008, e o Prêmio ABL de Poesia em 2009.
Graduada em
violoncelo pelo Conservatório de Música, compôs temas musicais para as novelas Bravo! e Pai Herói – a venda do compacto simples com a canção “Alouette”, em
1980, garantiu-lhe o Disco de Ouro. É, também, autora de “Cavaleiro do Rio Seco”,
composição que homenageia o cantor e compositor baiano Elomar, participou da
Orquestra Rio Camerata e do Quarteto de Cordas Legatto, tem discos solos e
integrou o grupo Trovarte (1994).
* * * * *
À NOITE
A
noite ela se embriaga
e
vai bailar nos espaços
usando
um traje de pássaros
viaja
para o infinito
abro
a janela do mundo
e já
não vejo seu rastro
me
leva lagoa lua
à
grande festa das águas
em
que outra madrugada
esconderás
teu espelho
nas
esquinas que não vejo
onde
a noite vira asa?
(do
livro Teatro dos elementos,
1993)
* * * * *
VIAS AVESSAS
Chegas por vias avessas escuto teus passos surdos
Deuses
que movimentam a incoerência do mundo
Regem
relógios quietos de horas que não existem
Feliz
a insanidade das multidões irascíveis
Se
há mares em teus abraços mergulho em sóis afundados
Decifro
a nova linguagem que inutiliza tratados
E
despedaça países fundidos em calmarias
O
amor desgoverna os ventos assombros em abadia
Viajo
os rumos trocados as ruas que se invertem
Distâncias
que se encontram pernas que se perseguem
Olhos
que confabulam dentro de rios quentes
Percebo
outras cidades nos vãos de uma nova lente
O
que me faz alcançar as caravelas aéreas
Andaimes
velozes cumes a indizível matéria
São
teus incêndios a luz que espalhas pelo Universo
E
por meu corpo acendendo meus lampiões submersos.
(de Lampadário, 2008)
* * * * *
MULHERES QUE ENTERRAM FILHOS:
Mulheres que enterram filhos
Invertem
o curso dos rios
Deságuam
o mar em regatos
Antecedem
o fim do ato
Tratados
de sóis contrários
O
trovão antes do raio
São
estrelas que se afundam
Big-Bang
depois do mundo
Maçãs
retornando à árvore
Tropeços
da gravidade
Vulcões
de tempero frio
Horizontes
em desvio
Avesso
do negativo
Padecer
sem ter nascido
– Mulheres
que enterram filhos –
Se
alvo de velhas vingas
Se
pacto de suicidas
Instauram
o não previsto
E
deixam pequenos cristos.
(de Lampadário, 2008)
Comentários
Postar um comentário