Nascido em em 16 de junho de
1927, em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), ARIANO VILAR SUASSUNA ficou
conhecido como teatrólogo e romancista, mas formou-se advogado e, a partir dos
anos 60, dedicou-se às aulas de estética na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPe).
Seus poemas encontram-se
reunidos em O pasto incendiado (1945-70),
Sonetos com mote alheio (manuscrito e
iluminogravado pelo autor, 1980), Sonetos
de Albano Cervonegro (manuscrito e iluminogravado pelo autor, 1985), Seletra em prosa e verso (1974) e Poemas (1999), além do CD Poesia viva de Ariano Suassuna (1998).
Estreou na dramaturgia em
1951 com a peça Torturas de um Coração;
em 1955, o Auto da Compadecida o
projetou no cenário brasileiro, sendo considerado pela crítica “o texto mais
popular do moderno teatro brasileiro”, levado ao cinema por Guel Arraes em
2000, e minissérie televisiva em 1999, reapresentada em 2020. Entre seus livros
ainda se destaca Romance d’a pedra do
reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta (1971).
Foi membro fundador do
Conselho Federal de Cultura (1967), diretor do Departamento de Extensão
Cultural da UFPe (1969) e secretário de Cultura do Estado de Pernambuco
(1994-1998); em outubro de 1970, o concerto Três
séculos de música nordestina – do Barroco ao Armorial, reuniu músicos e
artistas plásticos (pintores, gravuristas e escultores), deu início ao
Movimento Armorial, criado por ele para desenvolver e pesquisar as expressões
populares tradicionais.
Sua obra foi traduzida para
o espanhol, o italiano, o alemão, o holandês, o francês e o polonês. Membro da
Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris
Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte (2000), ocupa a cadeira
nº 32 da Academia Brasileira de Letras. Em 2004 foi produzido o documentário O sertão: mundo de Ariano Suassuna,
dirigido por Douglas Machado.
O escritor morreu no dia 23
de julho de 2014, depois de um acidente vascular cerebral.
* * * * *
LÁPIDE
[Com tema de Virgílio, o Latino,
e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo]
Quando eu
morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras
do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe
seu Dorso alardeado,
com
a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos
meus filhos deve cavalgá-lo
numa
Sela de couro esverdeado,
que
arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas
de Cobre, sinos e badalos.
Assim,
com o Raio e o cobre percutido,
tropel
de cascos, sangue do Castanho,
talvez
se finja o som de Ouro fundido
que,
em vão – Sangue insensato e vagabundo –
tentei
forjar, no meu Cantar estranho,
à
tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
* * * * *
1. A INFÂNCIA
Sem lei
nem Rei, me vi arremessado
bem menino
a um Planalto pedregoso.
Cambaleando,
cego ao Sol do Acaso,
vi o
mundo rugir. Tigre maldoso.
O
cantar do Sertão, Rifle apontado,
vinha
malhar seu Corpo furioso.
Era o
Canto demente, sufocado,
rugido
nos Caminhos sem repouso.
E veio
o Sonho: e foi despedaçado!
E veio
o Sangue: o marco iluminado,
A luta
extraviada e a minha grei!
Tudo
apontava o Sol! Fiquei embaixo,
na Cadeia
que estive e em que me acho,
a Sonhar
e a Cantar, sem lei nem Rei!
* * * * *
O MUNDO DO SERTÃO
Diante
de mim, as malhas amarelas
do mundo,
Onça castanha e destemida.
No campo
rubro, a Asma azul da vida
à cruz
do Azul, o Mal se desmantela.
Mas a
Prata sem sol destas moedas
perturba
a Cruz e as Rosas mal perdidas;
e a
Marca negra esquerda inesquecida
corta
a Prata das folhas e fivelas.
E
enquanto o Fogo clama a Pedra rija,
que até
o fim, serei desnorteado,
que até
no Pardo o cego desespera,
o Cavalo
castanho, na cornija,
tenha
alçar-se, nas asas, ao Sagrado,
ladrando
entre as Esfinges e a Pantera.
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