O poeta Max da Rocha Martins, ou MAX MARTINS, nasceu em Belém (PA), no dia 20 de junho de 1926, e transitou entre modernismo, concretismo e experimentalismos. Aos 17 anos, fundou a Academia dos Novos, juntamente com o primo Alonso Rocha e Jurandyr Bezerra, a fim de discutir e divulgar poemas na revista Amazônia, manuscrita e editada em papel almaço. Mais tarde, com Haroldo Maranhão e Mário Faustino, publicaria a revista literária Encontro, de um número só, no segundo semestre de 1948.
Na ocasião, ele já havia publicado poemas no jornal escolar O Colegial, quando conheceu Haroldo Maranhão e Benedito Nunes, que viria a se tornar crítico literário. Entre 1946 e 1951, o trio participou do Suplemento Literário da Folha do Norte – os poemas publicados por Martins, noticiarista e secretário de redação, estão reunidos em seu primeiro livro, O Estranho, de 1952, que conquistou os prêmios Frederico Rhonsard, da Academia Paraense de Letras, e o Santa Helena Magno, concedido pela Secretaria de Educação do Estado do Pará (ambos seriam concedidos novamente em 1960, por Anti-retrato).
Até os anos 80, publicou outros livros, entre eles, O risco subscrito (1980) e A Fala entre Parêntesis, este, com Age de Carvalho (1982). Com ele, participa da Oficina Literária Afrânio Coutinho, e com James Bogan e Vicente Cecim, realizam o ciclo Leituras de Poemas. No final da década, viaja para palestras e leituras de poemas nas universidades de Columbia, St. Louis e Rolla, nos Estados Unidos.
Entre 1990 e 1994 foi diretor da fundação cultural Casa da Linguagem, e, em 1993, recebeu publicou o livro Não para consolar e recebeu o prêmio de poesia Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 1999, foi patrono da 4ª Feira do Livro Pan-Amazônico.
O livro Diários de Max Martins, editado em 2007, é resultado da exposição realizada em 1999, na Universidade do Colorado, Caudrons of Criativity, e de Diários – Max Martins, mostra que homenageou o poeta em seus 80 anos. Em 2001, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Parte de sua obra foi reunida nas coletâneas Não para Consolar – poesia completa 1952-1992, de 1992, e Poesia brasileira do século XX: dos modernistas à atualidade, com organização de Jorge Henrique Bastos, editada em Lisboa, Portugal, em 2002 – a poesia de Max Martins foi traduzida para o inglês, o francês e o alemão. Também em 2002 foi publicado Cadafalso: antilogia (1952-2002), com organização de Ney Paiva.
Max Martins morreu no dia 9 de fevereiro de 2009, em Belém (PR), onde sempre morou, nove meses depois de contrair uma pneumonia. Entre 2015 e 2018 a Editora da Universidade Federal do Pará (EDUFPA) reeditou a obra completa do poeta, com organização de Age de Carvalho, em formato de bolso. Say it (over and over again), com trabalhos inéditos, estava previsto para ser lançado em 2019.

* * * * *


POEMA

Neste momento está me faltando uma palavra mágica
Que não encontro nos dicionários
Nem em meu pai morto há dois anos
Nem no amor
Uma palavra mágica só
Uma só.

22 anos e o mesmo sol
O mesmo café todas as manhãs
O mesmo beijo todas as noites
A mesma crise o mesmo dinheiro
As mesmas cadeias

Uma palavra só que não liberdade nem morte nem vida
Que eu não sei e jamais alguém saberá.

(em “Dez poetas paraenses”, do Suplemento Arte-Literatura do jornal Folha do Norte, 24 de novembro de 1950).

* * * * *

O ESTRANHO

Não entenderás o meu dialeto
nem compreenderás os meus costumes.
Mas ouvirei sempre as tuas canções
e todas as noites procurarás meu corpo.
Terei as carícias dos teus seios brancos.
Iremos amiúde ver o mar.
Muito te beijarei
e não me amarás como estrangeiro.

* * * * *

AMARGO

Há um mar, o dos velames,
das praias ardendo em ouro.
Há outro mar, o mar noturno,
o das marés com a lua
a boiar no fundo
o mênstruo da madrugada.
E final o outro, o do amor amargo,
meu mar particular, o mais profundo,
com recifes sangrando, um mar sedento
e apunhalado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog