Foto: Diário de Santa Maria
No dia 26 de junho de 1930, nascia ORACY DORNELLES, em Santiago (RS). Múltiplo artista, autor do Circo de Pulgas Amestradas, e poeta, publicou Agonia das Trevas, em 1954, o primeiro livro editado em Santiago, a Terra dos Poetas.
Ainda publicou Belkiss (1955), Ninguém e mais eu (1959), Poemas Opus 4 (1981), Poesia a Dois (1984), Cantares Ares (1992), Antologia a (2000), Cânticos do Hoje (2006), Páginas Impossíveis (2008), 320 caricaturas menos uma e Poesias novíssimas & antiquas (2009), Epitáfios e últimos poemas (2010) e Poesia y Chronica (2011).
Entre 1998 e 2010, trabalhou na biblioteca da URI
Santiago (campus da Universidade Regional Integrada), e colaborou durante muito
tempo com o jornal da cidade. Dornelles, patrono da Casa do Poeta Caio Fernando Abreu, também foi patrono da Feira do Livro, tema do livro O que importa em Oracy, de Fátima
Friedriczewski, Julio Prates e Froilan Oliveira, de 2003, e integrou o projeto
“Santiago do Boqueirão: seus poetas, quem são?”, organizado por Rosane Vontobel
Rodrigues e Cintia Maciel Toledo, em 2007, entre outras homenagens.
Integrante da Academia Sul-Riograndense de Letras e
da Associação Santamariense de Letras, o poeta da Terra dos Poetas faleceu em 2
de junho de 2019, devido a um infarto.
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SONETO
DO CUPIM
Protuberâncias marginais do
campo
Seios de terra onde formiga
habita.
Pérola alçada nos cantões,
pepita
Ou rolha agreste das
canhadas, tampo...
O quero-quero do teu alto
grita,
E às redondezas para olhá-lo
acampo...
Monto o minuano à luz de
pirilampo –
Gaúcho-mídia que se não
limita!
O campo-pele amadurece em
tara
Na mais louca de todas as
paisagens
Que um insano mental
imaginara...
– Cupim sagrado, vens a furo
e intrigas
Em vez do pus, adubas as
pastagens
Numa explosão incrível de
formigas.
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MINHA
RUA (À MEMÓRIA DE MEU PAI)
Pobre rua esburacada
De Santiago, eu te saúdo!
Tu nunca disseste nada
Como si soubesses tudo.
Nunca foste compreendida
Porque és humilde demais.
Mas cada pedra elucida
Teus sentimentos reais.
Há saudades erradias
Dentre o sulco das carretas,
E vivas filosofias
Sufocadas nas sarjetas.
Não há ninguém que te queira
E seja como eu tão bom,
Do que a própria polvadeira
De teu vestido marrom;
Porque ela forma, no vento,
Desenhando estranhos termos,
Rascunhos de pensamento
Para nós nos entendermos.
(Alegorias encerra
Que, talvez, entenda eu só)
– Bendita faixa de terra
Ornamentada de pó
– Santiago, rosal dos
pampas,
Teatro de amor e peleias,
A altaneria que estampas
Fecunda sangue de veias.
Mergulhando noite adentro
Santiago desvenda e aprova
A tristeza aqui do “Centro”
E os sonhos da “Vila Nova”.
Minha rua, tu me abrasas
Singela assim, ao rigor,
Com dois colares de casas
Toda bordada de dor.
Vejo menos do que viste,
Embora tarde conclua,
Pois aprendi a ser triste
No teu silêncio de rua.
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