O poeta e filósofo JAYME PAVIANI nasceu em 4 de junho de 1940 em Flores da Cunha. A primeira reunião de seus poemas ocorreu no livro Matrícula, em 1967, ao lado de José Clemente Pozenato, Ary Nicodemos Trentin (1942-2002), Delmino Gritti e Oscar Bertholdo (1935-1991), que compunham o grupo Reunião.
Só em 1974 publicaria a
primeira obra individual, Onze Horas
Úmidas. Na sequência vieram Águas de
Colônia (1979), O Exílio dos Dias
(1982), Agora e na hora das origens
(1987), a coletânea Poemas: 1967-1987
(1990), Antes da Palavra (1998), a
edição especial de Matrícula (1998),
uma nova coletânea As palavras e os dias:
1967-2002 (coleção Spheras, da EDUCS, de 2002, que também reúne poemas de
Oscar Bertholdo e José Clemente Pozenato), uma seleção de poemas destinados a
estudantes, intitulada Poesia – o que é,
como se faz (2002), Agenda de
Sentidos (2002) e Redemoinho
(2011), além dos livros de crônicas O
pomar e o pátio (2002) e Sobre todas
as coisas (2009). Toda a poesia entremeada por publicações sobre e de
filosofia, educação e epistemologia, ensaios acadêmicos sobre arte e estética, e
reflexões humanísticas (em revistas e/ou reunidos em livros).
Em “A poesia como
conhecimento”, estudo publicado no livro Estética
Mínima (1996), logo nas primeiras páginas o filósofo adverte sobre a
inevitabilidade de entender a poesia como “conhecimento”, embora vista
largamente como uma experiência de sentidos. “A poesia é vista como expressão
do sentimento, do lado sensível e inefável das coisas, daquilo que não pode ser
dito na linguagem científica. Entretanto, os ensaios críticos sobre poesia
acabam, mesmo indiretamente, mostrando que a obra poética também é um modo de
dizer o homem e o mundo” (p. 135). No poema “Adverbialmente”, de Agora e na hora das origens (vencedor do
Concurso Anual Literário da Prefeitura de Caxias do Sul, categoria Obra
Literária, em 1986), por exemplo, ele: “A vida nos deve/ a explicação da morte”
(1987, p. 26).
Pós-doutor em
Filosofia pela Università degli Studi di Padova, na Itália, crítico de arte e
professor, foi membro professor universitário e membro do Conselho Diretor da
Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS), além de integrar o Conselho
Editorial da EDUCS e da Editora da PUC-RS. Um dos fundadores da revista Chronos (UCS), considerada um marco na
historiografia da instituição, que o homenageou com a coletânea de ensaios Filosofia: Diálogo de Horizontes:
Frestschirft em Homenagem a Jayme Paviani. Em 2011 foi homenageado pelo
Departamento de Filosofia da UCS; o mesmo ano, recebeu homenagem da
Universidade de Passo Fundo (UPF), que lhe dedicou a Semana Acadêmica. Em 2002,
foi patrono da 28º Feira do Livro de Caxias do Sul, e, em 2013, da 37ª Feira do
Livro de Flores da Cunha. Recebeu o Troféu Caxias do Sul na categoria Cultura
(1986) e é Cidadão Caxiense, título concedido pela Câmara de Vereadores em
1999.
Além da UCS e da PUC,
lecionou e participou da vida acadêmica em diferentes funções em outras
instituições de ensino do Brasil e da Itália; foi coparticipante do processo de
instalação dos cursos de pós-graduação interinstitucional UCS/Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar-SP), escreveu capítulos de diversos livros e
publicou em anais e seminários no Brasil e no exterior.
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ADVERBIALMENTE
A obrigação de tudo
envelhece os desejos.
Os olhos dos meninos
aos poucos se apagam.
A vida nos deve
a explicação da
morte.
(de Agora e na hora das origens, 1987)
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POEMA LÚCIDO
Escrevo um poema lúcido
de versos de sangue e terra
com a urgência que há em mim.
Escrevo dentro da noite
sem desgosto ou desdita
o mistério de cada um
pois definitivamente são
verdes, macios e puros
os objetos do universo.
Escrevo um poema antigo
de dúvidas, somas e perdas
porém de claridade total.
(de Matrícula,
1967)
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ABISMO
As crianças morrem
de manhã nos confins dos jardins
de relâmpagos de baionetas.
Matéria-prima de anjos
forma secreta visível
do grão que não cresce.
Aves e inquietudes
sobrevoam os templos,
máquinas de instintos
roem a carne.
Das mãos das crianças
brotam armas, hinos
e lírios aos tempos modernos.
(de O exílio dos
dias, 1982)
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POEMA
Somos transeuntes.
Andar, andar
o musgo do coração.
(de Onze horas úmidas, 1974)
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