Foto Marco Nedeff

MARIA DO CARMO CAMPOS nasceu em Porto Alegre no dia 12 de junho de 1946. Publicou poesia em Cenas Mínimas: poemas (2016), Matinas & Bagatelas e O olhar do caminho: Santiago de Compostela (2002) – com fotografias de Mauro Paranhos –, mas sua ênfase são os ensaios literários, como os que estão reunidos em A matéria prismada: o Brasil de longe e de perto & outros ensaios (1999)
Dedicada ao estudo dos poetas João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), recebeu o troféu que leva o nome do poeta mineiro em 2002, em edição especial do centenário comemorado em Itabira (MG). Organizou, entre outros, os livros Guilhermino César, memória e horizonte (2010, finalista do Prêmio Açorianos) e João Cabral em perspectiva (1994).
Foi professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisadora do CNPq – quando coordenou diversos projetos em literatura brasileira, professora convidada em universidades brasileiras, canadenses, francesas e portuguesas.

* * * * *



JE VOUS SALUE, MARIE

Lá vai o poema
tão cheio de graça
o senhor é quem passa
bem perto
e não vê.

Lá vem o poema
bendita desgraça
o fruto é pecado
maldito
aqui.

Lá vai o poema
o ventre gigante
a beleza que existe
além do tupi.

O seu balanceado
é mais que moleque
garoto guri.

Lá vem o poema
o senhor é convosco
Moraes Ipanema
Godard

(já parti)

rogando por nós
pecadores
agora da morte
da nossa
(h) ora.

Amem!

* * * * *

SARAMAGO

A morte de um escritor
ressoa como uma lira
eterna
enquanto as palavras voejam
no fundo da ampulheta.

O mar? A terra?
Quem colherá os restos de José?

Vem o devir.

As cinzas viram espuma
e no ventre das ondas
explodem novas palavras
erguidas num nevoeiro
de sal.

* * * * *

PRAÇA DA ALFÂNDEGA

Engraxate,
quase pintor
teu passo
instalado
na praça.
A foto devolve as têmperas
com que dás limpeza
e polimento à vaidade
dos que sentam ao teu serviço.
No trono
creem elevar-se
sobre a tua altura.
Mais que engano!
És dignidade alçada
na manhã por nós
precavida.
Quem polirá os teus pés
à espera do primeiro
que virá?
São camadas de alvura
na transparência das pisadas
claros desígnios
resíduos de graxa.
Quando te foto-grafo
vejo as têmporas
sobrecamadas
do que guarda a memória
dos sapatos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog