Foto Infoglobo
MACHADO
DE ASSIS (Joaquim Maria Machado de Assis) nasceu
no Rio de Janeiro (RJ), em 21 de junho de 1839. Ao longo de seus 69 anos de
vida, escreveu em praticamente todos os gêneros literários – romances, peças
teatrais, contos e crônicas.
Como contista – de “O Alienista”
(1991), de “Missa do Galo” e de “Teoria do Medalhão” –, ou cronista – na Revista Brasileira e em jornais cariocas
–, ou romancista – de Memórias póstumas
de Brás Cubas (1881) e Dom
Casmurro (1900) – ou dramaturgo – as peças Hoje avental, amanhã luva (1860) e Lição de Botânica (1905), a primeira e a
última – ou como escritor de libretos para óperas – como Pipelet (1859) – deixou uma marca na literatura a ponto de ser
considerado “um gênio brasileiro” (Daniel Piza, 2005). Postumamente, ainda foram
publicadas coletâneas de críticas teatrais e literárias, e em 2008 foi editado
o livro Toda poesia de Machado de Assis,
organizada por Cláudio Murilo Leal.
Como poeta, começou a
publicar em jornais – segmento onde também atuou como revisor, repórter e
diretor, em veículos cariocas como Imprensa
Oficial, Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro – e publicou quatro
livros – Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875) e Poesias
Completas (1901), no qual foi incluído o então inédito Ocidentais.
Participou da fundação da
Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1897, sendo o primeiro presidente e
para a qual dedicou dez anos de sua vida, até próximo de sua morte, em 29 de
setembro de 1908, já abalado pela morte de Carolina, com quem se casara em 1869
e a quem dedicou grande parte de seus escritos.
A ABL, na qual ocupou a
cadeira nº 23, ficou informalmente conhecida como Casa de Machado de Assis; seu
nome também é o nome do principal prêmio literário brasileiro, e Machado,
considerado o maior de todos os escritores brasileiros, foi homenageado pela escola
de samba Mocidade Independente de Padre Miguel em 2009.
* * * * *
CAROLINA
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
* * * * *
ESTA NOITE
Os teus beijos ardentes,
Teus afagos mais veementes,
Guarda, guarda-os, anjo meu;
Esta noite entre mil flores,
Um sonho todo de amores
Nos dará de amor um céu!
* * * * *
UMA CRIATURA
Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.
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