No dia 18 de junho de 1868, com um brinde em
copos de água, foi inaugurada a Sociedade
Parthenon Literário, em reunião no salão da Sociedade Musical Firmeza e
Esperança, em Porto Alegre (RS). Além do abstêmio brinde, foram recitados
poemas por Hilário Ribeiro de Andrade (1847-1886), Aquiles Porto Alegre (1848-1926)
e pelo estreante Francisco Antunes da Luz (1853-1896). Estavam presentes na
cerimônia os escritores Apolinário Porto Alegre (1884-1904) e Vasco de Araújo e
Silva (1842-1895), entre outros.
A criação do Parthenon Literário tomou forma
no dia 7 de junho, quando ocorreu a primeira reunião preparatória e foi
escolhida a primeira diretoria da associação, formada por Vasco de Araújo e
Silva, presidente, Antônio Ferreira das Neves e Aurélio Veríssimo de Bittencourt
(1849-1919) como primeiro e segundo secretários. Uma comissão foi formada para
dar sequência os trabalhos – dela faziam parte, entre outros, o poeta José
Bernardino dos Santos (1848-1892), Caldre e Fião (1821-1876), Manuel Pereira da
Silva Ubatuba (1822-1875) e Hilário Ribeiro de Andrade e Silva (1847-1886).
Entre os tantos participantes da sociedade,
Benedito Saldanha, em A mocidade do
Parthenon Literário (2003, p. 20), destacam como “heróis”, os seguintes
literatos: Afonso Marques (1847-1872), Amália Figueiroa (1845-1878), Aquiles
Porto Alegre, Augusto Totta (1845-1907), Bernardino Taveira Júnior (1838-1892),
Eudoro Berlink (1843-1880), Lobo da Costa (1853-1888), Hilário Ribeiro,
Damasceno Vieira (1850-1910), José Bernardino dos Santos, Aurélio Veríssimo de
Bittencourt, Luciana de Abreu (1847-1880), Apolinário Porto Alegre, Caldre e
Fião e Múcio Teixeira (1857-1928).
O projeto, “que misturava sonhos com
entusiasmo e romantismo com indignação”, segundo Saldanha, além de se tornar a
primeira grande associação cultural do país, também estava voltado para
questões sociais: “lutar de peito aberto pela alforriação dos escravos e pela
implantação da República”; pioneiro, “valorizou o papel da mulher na sociedade,
publicou uma revista que virou referência, cultivou uma biblioteca volumosa e
um importante museu, realizou saraus concorridos, e se preocupou muito com o
ensino, a ponto de ministrar gratuitamente suas conhecidas aulas noturnas”
(2003, p. 21).
A biblioteca, motivo de orgulho dos
associados, chegou a contar com mais de seis mil volumes. De acordo com
Saldanha, não se sabe exatamente o que foi feito com o acervo depois do
encerramento das atividades do Parthenon, em 1886 – “provavelmente foi perdido
ou extraviado”, conjectura (2003, p. 25). Muito do eruditismo dos componentes
do grupo foi compartilhado em aulas noturnas, que começaram a ser ministradas a
partir de 1869, mas que engrenaram apenas em 1º de outubro de 1872, com
matérias básicas, como Gramática Portuguesa, e outras que hoje causariam
estranhamento, como Escrituração Mercantil. Como tudo que é criado sem
incentivo oficial, aos poucos os encontros foram mantidos com recursos
próprios. Até que, em 1885, o curso foi interrompido, com o aluguel da sala
atrasado.
Os saraus promovidos pelo Parthenon eram concorridos.
Idealizados por Apolinário Porto Alegre e Hilário Ribeiro, a ideia foi
apresentada em 22 de abril de 1872 para os membros da associação; porém,
inicialmente foi rejeitada por Aquiles Porto Alegre e outros companheiros, que
davam ênfase à publicação de uma revista. Só em julho de 1873 ocorreu o
primeiro sarau, com uma sucessão de grandiosos encontros – entre eles, o de 31
de janeiro de 1884, quando a professora Luciana de Abreu, uma das poucas
mulheres a integrar a associação desde sua fundação, proferiu conferência sobre
educação –, que só deixaram de ser realizados, com a mesma ênfase, em 1883.
Significativa também foi a publicação da Revista Mensal da Sociedade Parthenon
Literário, que começou a circular em março de 1869. O texto de apresentação
foi de Apolinário Porto Alegre e a revista oferecia ao leitor poemas, contos,
crônicas romances, biografias, obras de teatro, comentários, críticas literárias,
discursos, “sendo a poesia o gênero preferido por quase todos os autores na
época, o que explica o grande número de poemas publicados”, diz Saldanha (2003,
p. 93-94).
A revista teve quatro fases: a primeira
ocorreu até dezembro de 1869 e durou nove meses; a segunda corresponde ao
período de julho de 1872 e maio de 1876; depois, entre agosto de 1877 e início
de 1878; o final foi em abril de 1879, já conhecida como Revista Contemporânea do Parthenon Literário – Consagrada às Letras, Ciências e Artes. É possível encontrar
exemplares na biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Sul, na Biblioteca Pública Estadual e na Biblioteca Central da PUC-RS. Em
Caxias do Sul, o Arquivo Histórico João Spadari Adami mantém alguns exemplares
em seu acervo.
A última edição da revista coincide com o
encerramento das atividades do Parthenon Literário, embora a biblioteca e as
aulas tenham continuado por mais alguns anos. Saldanha alinha o desaparecimento
da instituição e as frustradas tentativas de recomeço com as divergências
políticas e religiosas dos remanescentes. “Depois de janeiro de 1886 pouco se
sabe sobre o Parthenon, o que nos leva a crer na sua dissolução”, aponta
Saldanha (2003, p. 105). Em 19 de junho de 1997 houve uma nova tentativa de
resgatar a sociedade. Na ocasião, as dependências do Arquivo Histórico Moyses
Vellinho eram o ambiente onde reuniam-se cerca de 100 associados dispostos a
reviver “a coragem daquela mocidade, sua fibra, seu caráter indomável, seu
entusiasmo, a contribuição inigualável de um grupo de jovens e idealistas que
deixou um exemplo para ser imitado e várias sementes lançadas” (2003, p. 105).
(A partir de SALDANHA, 2003, e internet)
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