O poeta GILBERTO MENDONÇA TELES nasceu em Bela Vista de Goiás (GO) em 30 de junho de 1931. Professor, com longa carreira em universidades no Brasil, no Uruguai e na Europa – como professor visitante, esteve na Universidade de Chicago (EUA), em 1991 –, publicou o primeiro livro de poemas em 1955, Alvorada. O segundo livro, Estrela d’alva (1956), mereceu o Prêmio Félix de Bulhões, da Academia Goiana de Letras – e, com novos livros, novos prêmios. Entre suas obras poéticas constam, ainda, Arte de Armar (1977) e Cone de Sombras (1995).

Em 1978 foi editado o livro Poemas Reunidos, que ganhou novo nome em 1986, Hora Aberta, e recebeu os prêmios Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia de São Paulo (1987) e Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL, 1989), pelo conjunto da obra.

Além desses, constam os prêmios Olavo Bilac (ABL, 1971), da Comissão do IV Centenário de Camões (1972), o Juca Pato (2002, que lhe rendeu homenagem como Intelectual do Ano), o Jabuti (2011) e o Fundo de Cultura de Goiás (2015). É acadêmico correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, eleito o Príncipe dos Poetas de Goiás (1979) e comendador da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal (1987).

Participou de diversas academias e associações literárias, como poeta e crítico literário, com estudos sobre o modernismo e a vanguarda na poesia brasileira; entre elas, figuram a Academia Goiana de Letras, a Asociación de Estudios Linguísticos (Montevidéu) e a Société de Linguistique Romane (Paris).

Em 2007 foi publicado A plumagem dos nomes: 50 anos de literatura, com organização de Eliane Vasconcellos, que reúne cartas, depoimentos (também em forma de poemas) e estudos em reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelo poeta e crítico literário, entre eles os apresentados no seminário “50 anos de poesia de Gilberto Mendonça Teles” (PUC-RJ, 2005).

 * * * * *

 

CHÁ DAS CINCO


Para Jorge Amado

 

Chá de poejo para o teu desejo

chá de alfavaca já que a carne é fraca

chá de poaia e rabo-de-saia

chá de erva-cidreira se ela for solteira

chá de beldroega se ela foge ou nega

chá de panela para as coisas dela

chá de alegrim se ela for ruim

chá de losna se ela late ou rosna

chá de abacate se ela rosna e late

chá de sabugueiro para ser ligeiro

chá de funcho quando houver caruncho

chá de trepadeira para a noite inteira

chá de boldo se ela pedir soldo

chá de confrei se ela for de lei

chá de macela se não for donzela

chá de alho para um ato falho

chá de bico quando houver fuxico

chá de sumiço quando houver enguiço

chá de estrada se ela for casada

chá de marmelo quando houver duelo

chá de douradinha se ela for gordinha

chá de fedegoso para mijar gostoso

chá de cadeira para a vez primeira

chá de jalapa quando for no tapa

chá de catuaba quando não se acaba

chá de jurema se exigir poema

chá de hortelã e até amanhã

chá de erva-doce e acabou-se

 

(pelo sim pelo não

chá de barbatimão)

 

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MODERNISMO

 

No fundo, eu sou mesmo é um romântico inveterado.

No fundo, nada: eu sou romântico de todo jeito.

Eu sou romântico de corpo e alma,

de dentro e de fora,

de alto a baixo, de todo lado: do esquerdo e do direito.

Eu sou romântico de todo jeito.

Sou um sujeito sem jeito que tem medo de avião,

um individualista confesso, que adora luares,

que gosta de piqueniques e noitadas festivas,

mas que vai se esconder no fundo dos restaurantes.

Um sujeito que nesta reta de chegada dos cinquenta

sente que seu coração bate mais velozmente

que já nem aguenta esperar mais as moças

da geração incerta dos dois mil.

Vejam, por exemplo, a minha cara de apaixonado,

a minha expressão de timidez, as minhas várias

tentativas frustradas de D. Juan.

Vejam meu pessimismo político,

meu idealismo poético,

minhas leituras de passatempo.

Vejam meus tiques e etiquetas,

meus sapatos engraxados,

meus ternos enleios,

meu gosto pelo passado

e pelos presentes,

minhas cismas,

e raptos.

Veja também minha linguagem

cheia de mins, de meus e de comos.

Vejam, e me digam se eu não sou mesmo

um sujeito romântico que contraiu o mal do século

e ainda morre de amor pela idade média

das mulheres.


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