CLÁUDIO MANUEL DA COSTA, advogado, magistrado e poeta, nasceu na Vila do Ribeirão do Carmo, hoje Mariana (MG), em 5 de junho de 1729. Formou-se advogado em Coimbra (Portugal), onde tomou contato com as novidades estéticas da literatura.

De volta ao Brasil, exerceu a advocacia e envolveu-se com a Inconfidência Mineira, movimento social contra a exploração econômica de Portugal, no final do século XVIII, que terminou com o esquartejamento de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em 21 de abril de 1792.

Como poeta, e fazendo uso do pseudônimo Glauceste Saturnio, Cláudio Manuel da Costa liderou o grupo de escritores mineiros que se identificaram com as coisas da terra, sonhos de liberdade política e as idéias iluministas vindas da Europa do século XVIII.

Sua poesia lírica, dedicada à musa Nise, está representada no livro Obras Poéticas, de 1768, e, em Vila Rica (1773), encontramos o autor em tom épico, embora o poema tenha mais importância histórica.

Acusado de participar dos grupos inconfidentes, foi preso e morreu na prisão. Oficialmente, a morte de Claudio foi suicídio por enforcamento, arrependido por ter traídos os companheiros; mas, como as igrejas tradicionalmente não badalam os sinos a suicidadas – e na ocasião, consta, várias fizeram soar os badalos –, a versão de que ele foi assassinado tornou-se mais forte entre os historiadores e também poetas (Cecília Meireles: “– Dizem que não foi atilho/ nem punhal atravessado,/ mas veneno que lhe deram,/ na comida misturado./ E que chegaram doutores,/ e deixaram declarado/ que o morto não se matara,/ mas que fora assassinado”); o provável mandante seria o visconde de Barbacena, Luís António Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (1754-1830), o sexto na linhagem.

A data do falecimento do poeta é 4 de julho de 1789, em Ouro Preto (MG), na Casa dos Contos, onde estava preso.

 * * * * *


                         À LIRA DESPREZO

 

VIII

Nise, que a cada instante

Teu número ouvia,

Ou fosse noite, ou dia,

Jamais não te ouvirá.

Cansado o peito amante

Somente ao desengano

O culto soberano

Pretende tributar.

 

IX

De todo enfim deixada

No horror deste arvoredo,

Em ti seu tosco enredo Aracne tecerá.

Em paz fique a amada,

Por quem teu canto inspiras;

E tu, que a paz me tiras,

Também te fica em paz.

 

* * * * *

 

NISE A FILENO

 

V

Ao som do manso rio,

Nise, fiel Pastora,

Chorando a toda hora

A tua ausência está.

Que triste eu tinha estado,

Ao ver teu rosto irado!

Mas quando é que tu viste

Um triste

Respirar!

 

XV

Verás na minha pena,

Que sempre vigilante,

Por todo o campo errante,

Jamais te hei de deixar.

E tu... ah! louco emprego

De quem não tem sossego!

E tu, que assim me viste,

Partiste

A respirar!

 

(de Obras Poéticas, 1768)

 

* * * * *

 

SONETO LXXX

 

Quando cheio de gosto, e de alegria

Estes campos diviso florescentes,

Então me vêm as lágrimas ardentes

Com mais ânsia, mais dor, mais agonia.

 

Aquele mesmo objeto, que desvia

Do humano peito as mágoas inclementes,

Esse mesmo em imagens diferentes

Toda a minha tristeza desafia.

 

Se das flores a bela contextura

Esmalta o campo na melhor fragância,

Para dar uma ideia de ventura;

 

Como, ó Céus, para os ver terei constância,

Se cada flor me lembra a formosura

Da bela causadora de minha ânsia?

 

* * * * *

 

CANTO II

 

Caía a noite, e apenas cintilava

No Céu alguma estrela; ao chão baixava

Escassamente a luz, que Cíntia fria

Mal distinta espalhava entre a sombria

Rama da espessa mata e duros troncos.

Não se ouvem mais que os formidáveis roncos

De aves noturnas, e famintas feras

 

Só tu, Garcia amante, consideras

Oportuna a teus ais a estação triste;

Amor, que ardendo no teu peito assiste,

Vai buscar o remédio a seu cuidado;

Ele te guia e leva disfarçado

À choça que às três índias deu abrigo.

Oh! quanto louvas.o silêncio amigo,

Quanto o sono dos mais! Chega, repara

Na velha aflita, que a choupana avara

Apenas cobre com palha agreste;

A leve cana, que as montanhas veste,

Já seca ao sol se acende, e a luz ministra

Com que uma a uma as índias três registra.

Na língua nacional, que não ignora,

Saúda, e neste instante a Mãe de Aurora

Conhece; Aurora, a bela prisioneira

Que houve da mão de Arzão, que co’a primeira

Medalha de ouro ele prendara; cresce

De novo a admiração, e se oferece

A Índia a dar-lhe relação da filha.

 

(de Vila Rica, 1773)


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog