ARISTHEO DE ANDRADE nasceu em Maceió (AL), no dia 3 de setembro de 1879. Começou a publicar seus poemas os jornais O Momento e Correio Mercantil aos 15 anos, com o pseudônimo Sylpho.

Ainda jovem, trabalhou na secretaria da Chefatura de Policia de Maceió. Em abril de 1896 mudou-se para Salvador, onde cursou Medicina e Farmácia, sem concluir o curso. Formou-se em Direito e colaborou com diversos jornais na capital pernambucana, incluindo O Gutemberg (fundado em 1881), do irmão Euzébio, exerceu a advocacia e publicou o primeiro livro, O Noivado, em 1900, que chamou a atenção de Arthur Azevedo e José Verissimo, entre outros.

Foi deputado estadual por dois anos (1901-1902) e professor. Suicidou-se na madrugada do sábado, 8 de julho de 1905, com 27 anos de idade, quando exercia interinamente o cargo de procurador da República em Alagoas.

 

* * *


AS ANDORINHAS


Com o inverno se vão as andorinhas

E quando o estio vem e o sol ardente

Elas voltam chilreando alegremente

Como um bando gentil de criancinhas.


Enquanto dura o estio, em revoada

O espaço sem fim vão recortando

Mas quando vem o inverno, o alegre bando

Em procura se vai de outra morada.


Assim como as andorinhas, magoada

Se foi minh’alma um dia em revoada

Em busca de douradas ilusões.

 

Voltou e nada achou: tudo deserto!

Teve desejos de chegar mais perto

Também achou desertos os corações!…

 

* * *


SONETO


Tem-te ahi, negro mar de lagrimas amargas,

Desesperança, oh! mãe dos náufragos da vida,

Destende sem temor as tuas azas largas

Sobre esta alma sem fé, tão mal comprehendida!


Já não posso lutar; succumbi ás descargas

De raivoso Aquilão; como uma nau perdida,

Alijo de meu bordo as mais preciosas cargas : 

– O riso, o sonho, o amor, a delicia da vida!


Alegria, outro rumo! Esperança, outro norte!'

Que a bússola endoideça, e outro paiz aponte

– A paragem glacial e lúgubre da morte!

 

Coragem! Nem sequer se contraia um só músculo : 

Quero ver apontar, no sombrio horizonte,

O tristonho lilaz do ultimo crepúsculo...

 

* * *


O SINO


Meu coração é como um velho sino

De uma Ermida de aldeia no abandono,

Dobra num som amargurado e fino,

Numa tristeza vesperal, de Outono.


Outr’ora era risonho e cristalino

De sua vez o harmonioso intono,

E hoje canta ao delíquio vespertino

A sinfonia do Supremo Sono!


Muitas vezes das auras do Passado

Uma lufada rígida passando

Fá-lo vibrar de um modo apaixonado


Em largas notas pueris e quando

Se ecoa o turbilhão, pelo ar magoado

Ficam por tempos trêmulos vibrando!...


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