O poeta DIRCEU
VILLA nasceu no dia 12 de setembro de 1975, em São Paulo (SP) e estreou com
o livro MCMXCVIII (1998), seguido pelos volumes Descort (2003,
Prêmio Nascente) e Icterofagia (2008). Em 2013, publicou Couraça, em 2014 a antologia Transformador, e em 2018 Speechless tribes: três séries de poemas
incompreensíveis.
Organizou uma antologia de
poetas brasileiros contemporâneos para a revista La Outra (México, 2009), e escreveu apresentações para obras de
Stéphane Mallarmé, Charles Baudelaire, Christopher Marlowe, além de autores
contemporâneos, como Alfredo Fressia, Fabiano Calixto, Ricardo Aleixo e Jeanne
Callegari.
Sua poesia já foi traduzida para o espanhol,
o inglês, o francês, o italiano e o alemão, publicada em antologias ou revistas
especializadas.
Traduziu Um anarquista e outros contos, de Joseph Conrad, em 2009, Lustra, de Ezra Pound, em 2011 – sobre quem fez a curadoria da exposição de livros na
Ezpo, na biblioteca de Haroldo de Campos, na Casa das Rosas (2008) –, e Famosa na sua cabeça, de Mairéad Byrne, em 2015.
Escreve para a revista literária Germina e no blog O Demônio
Amarelo, ensaios sobre poesia contemporânea
e revisão do cânone de poesia de língua portuguesa.
Convidado para o PoesieFestival de
Berlim em 2012, em 2015 foi escolhido para residência literária em Norwich e
Londres, promovida pelo British Council, a FLIP e o Writers’ Centre Norwich.
Participou também do Festival Internacional de Poesía de Granada (Nicarágua, 2018),
e do Festival Policromia Poetry & Co. (Siena, Itália, 2019).
É professor da Oficina de Tradução
Poética da Casa Guilherme de Almeida (Centro de Estudos de Tradução
Literária). Tem doutorado em Literaturas de Língua Inglesa pela USP,
estudando o Renascimento na Inglaterra e na Itália, e pós-doutorado em
Literatura Brasileira, também da USP, revisando o cânone de poesia de língua
portuguesa.
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BABY BERSERK
o amor é sempre uma canção solitária
seus cachos sorrisos os olhos brilhantes
dores nervosas maquiagem octogenária
o templo de ódio shirley jane distantes
oh the good ship lollipop na culinária
mulher ouro rosa colar de diamantes
o mundo material não precisa de pária
atriz menina velha voz dessemelhante
a cadeira de rodas em escadas rolantes
unhas mais longas que sua faixa etária
gravata borboleta de homens de estante
é hora de lhes mostrar a arcada dentária
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SR. BÁRBARO
um poema
fere o sr. barbáro na primavera,
no
inverno, em qualquer estação; debaixo do
braço, na
virilha, na garganta, todos fatais ao
mais rude
bufão; que sabe ler, e não sabe ler.
o sr.
barbáro pede ajuda de deus quando quer
matar,
quando põe pedras na boca para falar,
quando
cospe atacando cores e abre um ânus
dentro do
crânio; o sr. barbáro caga na bolsa.
soldado,
sonha-se o sr. barbáro, e bate muita
continência
[o incontinente]; o sr. barbáro é são,
mas é
demente. o sr. barbáro tem um esgoto sob
a língua,
olhos de estuprador e impotente. não
separa
ódio de comoção, ou virtude de covardia:
o sr.
barbáro gritava à tv numa poltrona até o dia
em que
lhe deram poder. o sr. barbáro parece ter
ratos no
rosto. haver vida o fere, é um desgosto.
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HINTERGEDANKE
pesados
carrilhões desbotam a paisagem
velhinhas
sem pressa alguma e com talões de cheque
em caixas
de supermercado
cães sem aldrava
no passeio público
e flores cantam
seu fedor
adocicado em honras fúnebres
por todo
lado
mapas de
mofo na parede do quarto
arreganham
as presas assim que
se apaga a
luz
e a noite
tem carros
rugindo no
ventilador ligado
contra os
dedos verdes do jardim
que surgem
sob a porta, que movem maçanetas
travas que
se movem em gargalhadas
moscas
zumbindo seus mil olhos no açúcar
rezar ao
sol de aço
recolher-se quando deus menstrua
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