O poeta JOAQUIM MONCKS nasceu no dia 29 de setembro de 1946, em Pelotas (RS). O primeiro livro, a plaqueta Ensaio Livre, é de 1973. Depois, entre outros, vieram Força Centrífuga (1979), O eu aprisionado (1986), O sótão do mistério (1992), O poço das almas (2000), Bula de Remédio (2005) e Confessionário – Diálogos entre prosa e poesia (2008).

Oficineiro de Poesia, coordena a Casa do Poeta Brasileiro (POEBRAS), faz parte da Academia Rio-Grandense de Letras, da Academia Sul-Brasileira de Letras, da Academia Literária Gaúcha e da Estância da Poesia Crioula e outras instituições voltadas à literatura.

Foi um dos integrantes do Grupo dos 15 Renascidos, que publicou a revista Caosótica (criada em 2005). É advogado e professor, agente literário, declamador, conferencista/palestrante e ensaísta. Foi deputado estadual e é oficial da reserva da Polícia Militar (PM).

* * *


A ASA DO FUTURO

 

O pássaro rufla entre ramas.

Alça-se ágil no espesso de folhas.

Sopra a natureza extremada:

canto e asas.

Imagina-se o cérebro humano assim

– álacre –

sobre o tapete

das experimentações.

Curva-se a Providência

aos desígnios de criado e criador.

Palavras no poema são pássaros

desacomodados de mundo e fatos.

Subtraem-se os pássaros-neurônios:

asas batendo no véu das insatisfações.

O absurdo comete o poema:

mala sem alças, impossível de carregar.

Somente o vício de saber-se sacrílego.

O ritmo é agonia – a asa do futuro.

 

* * *

 

O ABRAÇO OLHA PARA TRÁS

 

Coisa boa esta:

a de brincar com a infância,

essa criança moribunda dentro de nós.

 

O abraço revolve

o passado e o presente.

 

Devolve-nos a alegria

de estar no mundo...

 

* * *

 

O SUICIDA

 

Os loucos surtam

soltos

de suas camisas de força.

Somente o vinho, túrgido de aromas,

desce sem detença.

Tudo é irreversível na loucura.

 

Há um fio de fel

no eixo das lembranças.

A solidão chega: é o pássaro

que se estatela no vidro da janela.

Flores no jardim abaixo

confidenciam a incompetência no voo.

 

Uma rosa vermelha

de pescoço longo

olha pra cima

e acompanha

o mergulho do suicida.

Na calçada o corpo geme

desnudo de esperanças.

 

O dia arruma a cabeleira do sol.

 

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