O poeta JOSÉ HENRIQUE CALAZANS nasceu em 21 de setembro de 1986, no Rio de Janeiro (RJ). Publicou, em 2009, o livro de poemas Quem vai ler esta merda?, que teve sua segunda edição em 2012. Em 2010, editou o zine Desdobrando Versos. Participou de várias revistas e coletâneas, incluindo a antologia luso-brasileira Um rio de contos e O Livro da Tribo.

É autor do esquete Amor Sob Máscaras, que participou do I Festival Experimental e recebeu menção honrosa no Prêmio Dramaturgia do festival Niterói em Cena (2015). Integrou com um poema visual a exposição Miragens em 2016. Fez oficinas literárias com Cairo Trindade, Sérgio Sant'Anna, Cláudia Lage e Chacal. Participou do grupo performático Farani 53. Recebeu prêmios em diversos concursos literários – entre eles o I Concurso Nacional de Poesia da Revista Day by Night. Foi um dos organizadores do sarau POLEM e colaborou com o jornal Bafafá Online.

Como ator, trabalhou nas peças Artista? (2012), O Sapatinho Mágico (2013 a 2015), Gota D'Água (2014), O Mercador de Veneza (2014), Ópera do Malandro (2014), e do audiodrama Love Songs – Cacatua Hits (2013). Músico, colaborou com a webrádio Poesia Mix (www.poesiamix.com) foi guitarrista da banda Casa de Versos e participou da trilha sonora dos esquetes Amor sob Máscaras e A Viúva do Vilarejo, além das peças Homens de Papel e Hedda.

 * * *


OS INVISÍVEIS 


Não temos o desespero dos marginais 

nem a insensatez da high society. 

Não gostamos de nos olhar no espelho. 

Não temos os corpos sarados das propagandas 

e muito menos uma mente brilhante. 

Não somos campeões de nada. 

Nossas vitórias, quando vêm, 

não merecem sequer aplausos 

e nossas derrotas são tão ridículas 

que nem ao menos dariam uma boa tragédia. 

Não somos famosos, não somos ilustres, 

não vamos entrar para os livros de História 

nem para as páginas policiais. 

Vivemos sempre à prestação 

e quitamos nossa existência sem deixar saldo algum. 

Não temos Utopia. Não faremos a Revolução. 

Aliás, sequer desejamos vê-la. 

Não possuímos grandes ambições, 

mas temos esperança. 

Não porque acreditemos no futuro, 

mas porque o presente é entediante demais. 

Somos tolos sem nenhuma fé, 

em busca de um Deus subornável. 

Somos um bando de infelizes 

torcendo pro mocinho no final da novela. 


* * *


SOBRE O RIDÍCULO DOS RELÓGIOS


Por que aprisionar nossas vidas 

em correntes de meses, semanas, dias, 

submetendo nossa existência 

à ditadura das horas? 

 

Por que nos deixarmos levar 

pelas voltas deste pião desvairado 

que chamamos Terra? 


Seria tão mais fácil esquecer os anos 

e dividir nossa passagem por este mundo 

em instantes de alegria, 

momentos de emoção, 

ou vivências inesquecíveis. 

A Humanidade se entenderia melhor. 


Quem me dera se eu pudesse 

olhar bem fundo nos teus olhos

e dizer: “Tô com saudade.

Faz cinco sorrisos que não te vejo.”

E então matássemos toda saudade

contando o tempo em beijos.


* * *


ATLÂNTIDA-CARNAVAL

Se um dia o Cristo sucumbir nas águas,

submergido por algum deus perverso,

em rimas pobres eu afogo as mágoas,

guardo no peito o derradeiro verso.

 

Se o pôr-do-sol já não for como antes

num horizonte sem Arpoador,

aonde irão os poetas amantes

buscar remédio para sua dor?


Se alguma onda gigante, invejosa,

calar os gritos do Maracanã,

pra que sentir o perfume da rosa,

pra que sorrisos, pra que amanhã?


E numa bossa feita em despedida

algum sambista triste irá cantar:

“Não há mais poesia nesta vida

se o Rio um dia não voltar do mar


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