MARINA COLASANTI (Sant’Anna) nasceu em 26 de setembro de 1937, em Asmara, capital da Etiópia, e tem nacionalidade brasileira e italiana. Com a família, veio para o Brasil em 1948, e, embora com formação nas artes plásticas (o avô foi crítico e historiador de arte), tendo participado do III Salão de Arte Moderna, iniciou carreira jornalística no Jornal do Brasil, em 1962, depois de colaborar com outros periódicos e ser apresentadora e roteirista de televisão. Foi, também, publicitária e tradutora.

Seu primeiro livro, Eu sozinha, é de 1968. O primeiro de poesias é de 1992, Cada bicho seu capricho; depois vieram Rota de Colisão (1993), Gargantas Abertas (1998), Fino Sangue (2005) e Passageira em Trânsito (2009). Com Mais longa vida, publicado em 2020, já tem mais de 60 títulos publicados, entre contos (Quando a primavera chegar, 2017) ensaios (Como se eu fizesse um cavalo, 2012), crônicas (Crônicas para jovens, 2012) e literatura infantojuvenil (como Breve história de um pequeno amor, 2013, e Mais classificados e nem tanto, 2019).

É uma das mais premiadas autoras brasileiras: em 1980 recebeu o prêmio FNLIJ 1980 por Uma ideia toda azul (desde 2002 é hors-concours), em 1993 ganhou o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil por Entre a espada e a rosa, que se repetiria em 1994 com Ana Z. aonde vai você? e com Rota de Colisão (1993), na categoria Poesia. O livro de crônicas Eu sei, mas não devia (1992) também recebeu o Prêmio Jabuti. Em 2017 recebeu o 13º Prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil e o Prêmio FNLIJ pelas traduções/adaptações de O país de João e O anel encantado.

É colaboradora de revistas femininas e convidada para cursos, palestras, congressos, simpósios e feiras literárias em todo o Brasil e em outros países.


* * *



ÚTERO EM SANGUE


Ditas impuras como os leprosos

mulheres menstruadas

ou paridas

tinham vetada a entrada

no Templo de Jerusalém.


Esqueciam os sacerdotes

– ou muitos se lembravam –

que sem o útero em sangue

das mulheres

não haveria Templo

nem sacerdotes

nem homem algum dos tantos de Israel

com sua usurpada pureza.


* * *


AGRADEÇO


Agradeço cada poema

cada prato posto à mesa

cada ponto de costura ou

vírgula de escrita

agradeço

cada gesto que me traz sorriso

e que se expande

por tudo dou graças,

sem saber a quem.


* * *


EM FUNDOS GOLES


Quero retroceder

jantar com Henry James

falando de luz e esplendor em Veneza

passar a tarde com meu avô

na biblioteca da nossa villa em Roma,

falar de Tintoretto com um

e de Ravena com o outro

de Palazzo Ducale

e de Theodora,

tomar chá e grappa

entre fundos goles de beleza

para continuar enfrentando o árido

século XXI

em que me toca viver.


* * *


SE APENAS


Atravessei descalça

o ferro e o fogo

deixando atrás de mim

rastro de pranto

como se só o sofrer me fosse amigo.

Agora

quando o fim já se faz perto

e caminho na estrada sem espanto

sei que o antigo penar

foi-se no tempo

e me adoça a garganta

quando canto.


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