ANA
FARRAH nasceu em 18 de novembro de 1981. Publicou Os mortos do apartamento 21 (2018) e Orquídea trepadeira e outras flores
ordinárias (2017).
Participou das coletâneas Escriptonita (2016) e Sete
Pecados (contos, edição artesanal de 2015), e de Contemporâneas – Antologia poética (2016,
https://pt.calameo.com/read/004977080d2d8241f2523), organizada por Adriane
Garcia. Seus poemas também podem ser encontrados no Livro da Tribo, da Editora Tribo. Escreve em blogs e revistas
eletrônicas de literatura do Brasil e de Portugal.
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ANA F
Ofereço
(me): serviço de ponta, pagamento a combinar
[em
ponta de faca].
Lavo
bem, passo (por cima) e ponho fogo.
Faço
também omelete e massagem.
Atende
em domicílio: homens, mulheres, casais,
ou
[quem dá mais?]
Tratar
aqui, no pé do ouvido.
Ou
no terreiro, com Salomé.
* *
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Tô o cão, hoje
amanheci faminta
louca por um sim
mas recebi o soco de um não
vou usar meu desaparecimento estratégico
meu silêncio selado à vácuo
chuparei essa manga
engolindo o caroço
quebrarei a louça por tédio
sem fazer dramalhão mexicano
mas por hábito das mãos
estabanadas
distraídas da função de mão
me corto me queimo machuco
dois, três dedos
nem registro a dor
seguro coisas
e não as sinto nem vejo
que a qualquer momento
escaparão da boca ao chão
como acontece sempre
com tudo aquilo que tentei segurar
uma vida todinha tentando segurar
e um polegar opositor deficiente
* *
*
talvez esteja na hora de
garantir um lugar na lua
a humanidade, três uísques
atrasada
o elogio está sempre oito
ponderações atrasado
a igreja está sempre 30
obscurantismos atrasada
a aristocracia está sempre
atrasada, pois demora muito no banho
a filosofia está sempre
atrasada e adiantada ao mesmo tempo
a arte está sempre dois
delírios atrasada
a psicanálise está sempre
uma modernidade atrasada
um chargista de jornal disse
que o mundo acabou e que só estamos
forçando a barra
um arqueólogo disse que a
humanidade ainda nem começou.
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