MYRIAM
FRAGA, poeta, contista e jornalista, nasceu
em Salvador (BA), em 9 de novembro de 1937. Depois de frequente
participação em revistas e suplementos literários, apresentou-se no livro Marinhas em 1964, sob orientação
artística do gravador Calasans Neto (sobre quem a autora publicou um ensaio em
2007). Em 2008, a Assembleia Legislativa de Salvador editou Poesia Reunida, e, em 2015, a autora
publicou seu último livro, Rainha Vashti,
com ilustrações de Olga Gómez.
Para o púbico
infantojuvenil, publicou, entre outros, O
pássaro ao sol (2012) e uma série de biografias de artistas, como Castro
Alves e Carybé, nas coleções Crianças Famosas e Mestres da Literatura.
Participou de diversas antologias, no Brasil e no exterior, gravou um CD, A lenda do pássaro que roubou o fogo,
com música de Carlos Pata e ilustrações de Calasans Neto, em 1983, e escreveu
as biografias Flor do Sertão (1986) e
Leonídia, a musa infeliz do poeta Castro
Alves (2002).
Seus poemas foram traduzidos
para o francês, o inglês e o alemão (Six
poems e Die Stadt), tem seu nome
citado em várias publicações nacionais e estrangeiras, entre elas o Dicionário crítico de escritoras
brasileiras: 1711-2001, por Nelly Novaes Coelho (2002) e o Pequeno dicionário de literatura brasileira,
de José Paulo Paes e Massaud Moisés (1968).
Entre 1981 e 2012 participou
como escritora de inúmeras conferências e seminários como escritora convidada
(como o Dia Internacional do Museu – Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos
de Poesia e Literatura, em 2012, o Colloque Jorge Amado, em Sorbonne, 2002, o
5º Encontro Nacional de Acervos Literários Brasileiros, na PUCRS, a III Bienal
Nestlé de Literatura, em São Paulo, 1986, entre outros).
Em 1985, foi eleita por
unanimidade para a Academia de Letras da Bahia (cadeira nº 13) e integrou
diferentes instituições, como o Conselho Federal de Cultura (1990-1993),
Conselho Estadual de Cultura (1992-2006), a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado da Bahia (2004-2006) e o Conselho da Fundação Pierre Verger e do
Instituto Carybé. Foi, ainda, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, desde a
sua fundação, e membro do Conseho da Associação Baiana de Imprensa (ABI).
Como reconhecimento à sua
atuação profissional, recebeu o Prêmio Arthur de Salles (1969), a Medalha
Castro Alves (1984), o Troféu Catarina Paraguaçu (1997) e o Prêmio Alejandro
José Cabassa (1998).
Myriam de Castro Lima Fraga faleceu em Salvador, no dia 15 de fevereiro de 2016.
* * *
A ESFINGE
Revesti-me de mistério
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.
No fundo, não me importa
O enigma que proponho.
Por ser mulher e pássaro
E leoa,
Tendo forjado em aço
As minhas garras,
É que se espantam
E se apavoram.
Não me exalto.
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada.
E por saber que a morte
E a última chave,
Adivinho-me nas vítimas que estraçalho.
* * *
SEMEADURA
O limite da luz
é o espaço do salto.
É a casa do sonho,
o caminho de volta,
extravio ou derrota.
O pássaro é este silêncio
cortando como faca.
É a bicada no ventre:
semeadura de mel
nos meus campos molhados.
Oh! eterno seja o passo
minha pele no teu aço,
ó pássaro, pássaro.
Senhor do sol me arrebata,
ó pássaro,
tuas garras como arado
revolvendo meus pedaços.
Meu corpo de sementeira
na raiz do teu abraço.
Um arco-íris de espigas
no meu seio, meu regaço
como um odre
na esperança de teu vinho,
meu canto no teu cansaço
ó pássaro, pássaro.
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