O poeta e compositor SALGADO
MARANHÃO (José Salgado Santos) nasceu no dia 13 de novembro de 1953, em
Caxias, estado do Maranhão. Desde cedo, entrou em contato com a literatura de
cordel e, mais tarde, com a obra do poeta português Fernando Pessoa. O primeiro
livro individual é de 1989, Punhos da
serpente; o mais recente é Ópera de
nãos, de 2015, sem contar a participação na antologia Amor e outras revoluções, de 2019, organizada por Éle Semog.
No final dos anos 60, já em Teresina, escreve para o
jornal local. Anos depois, conhece Torquato Neto e, estimulado por este (que
teria, também, sugerido o nome poético), muda-se para o Rio de Janeiro – tinha
19 anos e ingressa no curso de Comunicação da PUC, mas não chega a concluir.
Seus primeiros poemas em livro foram publicados na
antologia Ebulição da escrivatura: treze
poetas impossíveis (1978), organizada por ele, Antonio Carlos Miguel e
Sérgio Natureza – a partir daí, aproxima-se do músico e compositor Paulinho da
Viola e, na sequência, é gravado por Ivan Lins, Elton Medeiros, Moacir Cruz,
Zeca Baleiro, Elba Ramalho e Ney Matogrosso, entre outros. Publicou, também,
artigos e poemas na revista Encontro com
a Civilização Brasileira (1978)
Em 2016 recebeu o Prêmio Jabuti por Ópera de nãos – havia ganho o primeiro em 1999, por Mural de ventos. Antes, A cor da palavra mereceu o prêmio Olavo
Bilac, da Academia Brasileira de Letras (ABL, 2011) e, em 1998, coube ao poeta o
Prêmio Ribeiro Couto, da União Brasileira dos Escritores (UBE). Seus poemas
foram traduzidos para o espanhol, inglês, alemão, francês, italiano, sueco,
japonês, esperanto e hebraico, e são temas de estudo em universidades
estadunidenses.
* *
*
DESAMANHECER
Agora,
na cidade
da tua ausência
outro dia
desamanhece.
E súplice
um grito
escorre na paisagem.
Todos os
lugares
são feitos
do teu antes.
Da janela,
a noite
chega
com as mãos
vazias. E
tudo ao fim
se esvai
em volta
como um
tecido de ventos.
Só meu
coração insiste
em erigir
teu nome...
para além
do esquecimento
* * *
LADAINHA
Não
secarás as raízes
do teu
sopro
no abismo
da noite púrpura;
não
seguirás o fantasma
que
atravessa os trilhos;
não
cantarás aos muros de arrimo
tua
fantasia de pássaro.
Escarpado
é o chão
dos teus
sapatos;
escarpado
é o azul
rabiscado
de estrelas;
escarpada
é a rima
que
lateja a alegoria
da
palavra.
* *
*
LABORÁRDUO
Meus olhos exilaram-me
na planície das palavras.
E luto com elas no breu
como um louco
que adestrasse nuvens;
– como o outono a
depenar-se.
Ainda que no desconcerto
ante as coisas que pedem
silêncio.
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