Nascido em 5 de novembro de 1958,
CHARLES KIEFER é natural de Três de Maio (RS), é mestre e doutor em teoria literária pela PUCRS. Embora considere Caminhando na Chuva (1982) como seu livro de estreia, ele já havia publicado outros três volumes antes, um em 1977, dois em 1978; ao todo, são mais de 30 livros, entre poesia, romances, novelas, contos e ensaios, inclusive na França, Espanha e em Portugal – alguns com dezenas de reimpressões –, além de participações em antologias.

Ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura por O pêndulo do relógio (1985), Um outro olhar (1993) e Antologia Pessoal (1996), além de prêmios da Academia Brasileira de Letras, o Afonso Arinos, o Guararapes, o Monteiro Lobato e o Altamente Recomendados (estes dois da FNLIJ). Embora tenha publicado inicialmente por editoras regionais, já vendeu mais de 300 mil volumes. Sua obra já ganhou adaptações para o cinema por Paulo Nascimento – O Chapéu (curta, 1997), Dedos de pianista (curta, 1998), com Bebeto AlvesCarlos CunhaCarmem Silva e Yonara Karam, e Valsa para Bruno Stein (longa, 2008), com Walmor Chagas e Ingra Liberato – e para o teatro – Escorpião da sexta-feira (2006) e Quem faz gemer a terra (2002), esta encenada na França, Suíça e Polônia.

Kiefer é professor de Escrita Criativa e de Produção de Textos Poéticos, e das oficinas de Criação Literária e de Conto Brasileiro, em Porto Alegre, há mais de 25 anos – a partir delas, publicou Para ser escritor (2010); entre seus livros teóricos está A poética do conto: de Poe a Borges, um passeio pelo gênero (2011).

Também atuou em áreas de políticas públicas de cultura – foi Coordenador do Livro e Literatura na Secretaria Municipal de Cultura, e secretário de Cultura, municipal e estadual. Em 2008, patrono da 54ª Feira do Livro de Porto Alegre.

* * *





AS TRÊS IRMÃS


Feito febre terçã, melancolia

reponta ao entardecer.


Traz consigo suas irmãs: angústia

e solidão.


Recebo-as no vão da porta.


Olá, como vão, ofereço-lhes

licor de maçã.


Melancolia rejeita, encolhe-se

no sofá.


Angústia bebe de um só gole.

Solidão degusta.


* * *


EU CANTO


Eu canto o que vi, um dia, fenecer

nesse desfazer-se implacável

que é a vida, o amor, a fome

de outro ser, que se esboroa,

esperança que se esvai em agonia


Eu canto o que vi, e o que passou,

e o que senti, vivi, e o que amei,

que sobra de tudo só o canto triste

de um passado já morto, e que morre

a todo o instante, a desfazer atroz

e inclementemente a vida e o ser.


* * *

 

DOMINGO


Porque é domingo, fito com mais vagar

o espelho e encontro

novos veios na face,

outros sulcos,

outras decepções dependuradas

nos cílios,

no domingo.


O irresistível avanço da calvície

e dos cabelos brancos, o desbotar

dos olhos verdes vejo no espelho

de domingo.


Caminho pela casa de pijama.

Faço planos de passear

no parque, de ver o filme imperdível,

de rever amigos esquecidos.

Acabo empanturrado de massa e caipirinha,

no domingo.


Porque é domingo, recordo o tempo

sem compasso, o eterno feriado

da infância.

Sinto um forte aperto no peito

ouvindo Francisco Alves,

enquanto o domingo, desajeitado

paquiderme, senta-se nas minhas pernas.



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