Ganhou o Prêmio Jabuti de
Literatura por O pêndulo do relógio
(1985), Um outro olhar (1993) e Antologia Pessoal (1996), além de
prêmios da Academia Brasileira de Letras, o Afonso Arinos, o Guararapes, o
Monteiro Lobato e o Altamente Recomendados (estes dois da FNLIJ). Embora tenha
publicado inicialmente por editoras regionais, já vendeu mais de 300 mil
volumes. Sua obra já ganhou adaptações para o cinema por Paulo Nascimento – O Chapéu (curta, 1997), Dedos de pianista (curta, 1998), com Bebeto
Alves, Carlos
Cunha, Carmem
Silva e Yonara
Karam, e Valsa para Bruno
Stein (longa, 2008), com Walmor Chagas e Ingra Liberato – e para o teatro –
Escorpião da sexta-feira (2006) e Quem faz gemer a terra (2002), esta
encenada na França, Suíça e Polônia.
Kiefer é professor de Escrita
Criativa e de Produção de Textos Poéticos, e das oficinas de Criação Literária
e de Conto Brasileiro, em Porto Alegre, há mais de 25 anos – a partir delas,
publicou Para ser escritor (2010); entre
seus livros teóricos está A poética do
conto: de Poe a Borges, um passeio pelo gênero (2011).
Também atuou em áreas de
políticas públicas de cultura – foi Coordenador do Livro e Literatura na
Secretaria Municipal de Cultura, e secretário de Cultura, municipal e estadual.
Em 2008, patrono da 54ª Feira do Livro de Porto Alegre.
* * *
AS TRÊS IRMÃS
Feito febre terçã, melancolia
reponta ao entardecer.
Traz consigo suas irmãs: angústia
e solidão.
Recebo-as no vão da porta.
Olá, como vão, ofereço-lhes
licor de maçã.
Melancolia rejeita, encolhe-se
no sofá.
Angústia bebe de um só gole.
Solidão degusta.
* * *
EU CANTO
Eu canto o que vi, um dia, fenecer
nesse desfazer-se implacável
que é a vida, o amor, a fome
de outro ser, que se esboroa,
esperança que se esvai em agonia
Eu canto o que vi, e o que passou,
e o que senti, vivi, e o que amei,
que sobra de tudo só o canto triste
de um passado já morto, e que morre
a todo o instante, a desfazer atroz
e inclementemente a vida e o ser.
* * *
DOMINGO
Porque é domingo, fito com mais vagar
o espelho e encontro
novos veios na face,
outros sulcos,
outras decepções dependuradas
nos cílios,
no domingo.
O irresistível avanço da calvície
e dos cabelos brancos, o desbotar
dos olhos verdes vejo no espelho
de domingo.
Caminho pela casa de pijama.
Faço planos de passear
no parque, de ver o filme imperdível,
de rever amigos esquecidos.
Acabo empanturrado de massa e
caipirinha,
no domingo.
Porque é domingo, recordo o tempo
sem compasso, o eterno feriado
da infância.
Sinto um forte aperto no peito
ouvindo Francisco Alves,
enquanto o domingo, desajeitado
paquiderme, senta-se nas minhas
pernas.
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