O poeta FABRÍCIO MARQUES nasceu no dia 22 de novembro de 1965, em Manhuaçu (MG). Publicou Marquises (1992), Meu pequeno fim (2002), A fera incompletude (2011, indicado ao Prêmio Portugal Telecom e ao Prêmio Jabuti em 2012) e A máquina de existir (2018).

Ganhou o Prêmio Cultural de Literatura 1998, da Fundação Cultural do Estado da Bahia por Samplers, publicado em 2000. Participou das antologias Na virada do século: poesia de invenção no Brasil (2002, organizada por Cláudio Daniel e Frederico Barbosa), Poesia em movimento (2002, por Jorge Sanglard), Oiro de Minas: a nova poesia das Gerais (2007, por Prisca Agustoni), e Prévia Poesia (2010, organizada por André Dick); também integra Os cem menores contos brasileiros do século (2004, por Marcelino Freire.

Como ensaísta e crítico, publicou Aço em Flor: a poesia de Paulo Leminski (2001) e o perfil biográfico Wander Piroli: uma manada de búfalos dentro do peito (2018); como jornalista, Dez conversas / Diez charlas (2004) e Uma cidade se inventa – Belo Horizonte na visão de seus escritores, livro-reportagem, de 2015.

É professor de Comunicação, mestre em Teoria da Literatura e doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tem ensaios publicados em jornais, revistas acadêmicas e suplementos literários – e desde 2016 é curador de poesia brasileira para o site www.vallejoandcompany.com, editora pela qual organizou a antologia Inventar la felicidad: Muestra de poesia brasileña reciente (2016) e publicou Fuera del alcance de la memória (antologia poética 1998-2018 (2019)


* * *


NA RUA ERMA


na rua erma de ruídos

retiro,

de dentro dos monturos,

um pouco de futuro


um pouco de futuro

separo

com esmero

e gravo,

onde o ruído ainda é raro,

um desejo:


quero o abandono

que só a noite dá

quando já nem noite há


* * *


NA ENCRUZILHADA


debaixo da linha

do equador

acabou o amor


todo dia

um eu quero o meu

um já deu


todo dia

um não, cidadão

aquela luta foi em vão


todo dia

um e daí?

um esse baque eu ouvi


errou de messias

errou de engano

dane-se o dano


adeus miguel, adeus Evaldo

um caso isolado

um we trust in god


todo dia

um adeus à mata

a João Pedro, a Agatha


todo dia

um 7a1

um george floyd


alívio algum

ninguém sacia o sacode

a vida danificada


na real encruzilhada

a esperança se fode

ou reinventa a ode


* * *


ADMIRÁVEL PÁLPEBRA DO DIA


Admirável pálpebra do dia

estranha ao poeta que,

insone, esgueira-se sob

a fina chuva de melancolia


a perseguir palavras

como se pérolas

incrustadas na pele,

no mármore, na pupila


e nem percebe a estatuária

disposta na praça

de cuja proa partem

imagens vazias


de modernidades tardias


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