O poeta ARNALDO
XAVIER nasceu em Campina Grande, na Paraíba, no dia 19 de novembro de 1948.
Sua estreia na poesia ocorreu em São Paulo, para onde havia se mudado – foi na
série Violões de Rua, publicada pelo Centro Popular de Cultura (CPC), nos anos
60.
Fundou o Grupo Pindahyba ao lado de Aristides Klafke,
Souza Lopes e Roniwalter Jatobá. O Pindahyba também editora e, por ela, foi
publicada a coletânea Contramão
(1978), na qual Xavier apresentou o poema “São Pálido”.
Em 1985, confrontou-se com Oswaldo de Camargo, Paulo
Colina, Abelardo Rodrigues e os poetas concretistas durante o I Encontro de
Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros, realizado em São Paulo em setembro –
no ensaio-manifesto “Dha lamba à qvizila – a busca de uma expressão literária
nega” (publicado em 1986, no livro Criação
crioula, nu elefante branco, organizado por Miriam Alves, Luiz Silva Cuti e
Arnaldo Xavier), atacou o conceito de
cultura brasileiro, comprometido com o padrão europeu e o apagamento dos
negros.
Publicou, ainda, Rosa
da recvsa (1982), Eis a Rosa-Cruz e
outras ilusões ou fama libertatis (1989), Manual de sobrevivência do negro no Brasil (1993, com ilustrações
de Maurício Pestana) e Ludludi (1997);
deixou inédito Hekatombu, além de
dividir autoria de livros com Klafke (1974-75), participar de antologias, de
alguns números da revista Cadernos Negros,
e ter alguns poemas musicados
Faleceu em 26 de janeiro de 2004, mas seus poemas visuais
continuam esquecidos das antologias e exposições da prática no Brasil, como
afirma Ricardo Domeneck, escritor e artista visual.
* *
*
1
A cavalo
cavá-lo
cavahalo
2
Amá-la
jamais
domá-la
3
Nada
cabe
à solidão
4
Dia
agnóstico:
ateu lado
* *
*
SÃO
PÁLIDO
um dia no rio
tietê correu sangue
como correu no rio Volga
como correu nos esgotos de Varsóvia
como correu nos vales de
áfricas
(e suas veias
borbulhavam gemidos)
lá pras bandas de são miguel
paulista
correu sangue
e o sangue foi confundido
com leite
e as mamadeiras percorreram
os corpos deitados
sobre os trilhos
enquanto as locomotivas
não vinham (cheias
de vidas)
sangue confundido
com leite
no vice-versa de putas
cabras
que amamentavam a radial
leste de a
feto
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