A poeta HILDA HILST, também conhecida por HH, nasceu
em 21 de abril de 1930 em Jaú, cidade do interior de São Paulo. Ficcionista,
dramaturga e cronista, mudou-se para Santos em 1932, e para São Paulo em 1937. Fez
parte da Geração de 45, desde sempre com uma escrita em que o real e o
imaginário se fundem, com mais de 20 livros de poesia, 10 ficções e oito peças
teatrais – o primeiro livro de poesias foi publicado em 1950, Presságio. Influenciada por James Joyce
e Samuel Beckett, sua obra trata de temas como misticismo, libertação sexual
feminina, insanidade e erotismo.
Alguns de
seus trabalhos foram traduzidos para o espanhol, o catalão, o italiano, o
inglês, o alemão e o francês – em 1997, o polêmico A obscena senhora D. foi publicado pela Editora Gallimard. O
primeiro reconhecimento nacional foi a conquista do prêmio PEN Clube São Paulo,
em 1962, por Sete cantos do poeta para o
anjo. Depois, vieram o prêmio APCA por Ficções,
em 1997, e em 1981 pelo conjunto da obra, ambos pela Associação Paulista de
Críticos de Arte; Cantares de perda e
predileção, de 1983, ganhou o Prêmio Jabuti, e também, no ano seguinte, o
Prêmio Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia de São Paulo; o conto “Rútilo Nada”
fez a autora receber outro Jabuti (1993) e, em 2002, HH foi contemplada na
categoria Poesia no Prêmio Moinho Santista, em 2002.
Desde
1966, Hilda morava na Casa do Sol, espaço que serviu para inspirá-la e que hoje
abriga o Instituto Hilda Hilst, responsável pela manutenção da Casa e do acervo
de Hilda. Parte do acervo foi comprada pelo Centro de Documentação Alexandre
Eulálio – Instituto de Estudos de Linguagem (IEL-UNICAMP), em 1995. Desde 2001
a Editora Globo reedita a obra da poeta paulista, embora ainda seja difícil
encontrá-la nas livrarias. Em 2018, as
jornalistas Luisa Destri e Laura Folgueira publicaram a biografia Eu e não outra – A vida intensa de Hilda
Hilst.
Hilda de Almeida Prado Hilst faleceu em Campinas
(SP), no dia 4 de fevereiro de 2004, por falência múltipla de órgãos e
sistemas, depois do agravamento do quadro clínico devido a uma queda.
* * * * *
POEMAS AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO
Amada
vida, minha morte demora.
Dizer
que coisa ao homem,
Propor
que viagem? Reis, ministros
E
todos vós, políticos,
Que
palavra além de ouro e treva
Fica
em vossos ouvidos?
Além
de vossa RAPACIDADE
O
que sabeis
Da
alma dos homens?
Ouro,
conquista, lucro, logro
E os
nossos ossos
E o
sangue das gentes
E a
vida dos homens
Entre
os vossos dentes.
Ao
teu encontro, Homem do meu tempo,
E à
espera de que tu prevaleças
À
rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te
cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E
convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas,
a se sentarem contigo à tua mesa.
As
coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha
própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências,
o amor dilacerado dos homens
Meu
próprio amor que é o teu
O
mistério dos rios, da terra, da semente.
Te
cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu
Compaixão
e ternura e paz na Terra
Se
ainda encontrasse em ti, o que te deu.
* * * * *
SETE CANTOS DE POETA PARA O ANJO
Canto
Primeiro
Se
algum irmão de sangue (de poesia)
Mago
de duplas cores no seu manto
Testemunhou
sem anjo em muitos cantos
Eu,
de alma tão sofrida de inocências
O
meu não cantaria?
E
antes deste amor
Que
passeio entre sombras!
Tantas
luas ausentes
E
veladas fontes.
Que
asperezas de tato descobri
Nas
coisas de contexto delicado.
Andei
Em
direção oposta aos grandes ventos.
Nos
pássaros mais altos, meu olhar
De
novo incandescia. Ah, fui sempre
A
das visões tardias!
Desde
sempre caminho entre dois mundos
Mas
a tua face é aquela onde me via
Onde
me sei agora desdobrada.
* * * * *
AMAVISSE
Como
se te perdesse, assim te quero.
Como
se não te visse (favas douradas
Sob
um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível,
e te respiro inteiro
Um
arco-íris de ar em águas profundas.
Como
se tudo o mais me permitisses,
A
mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres,
altos, e eu mesma diluída e mínima
No
dissoluto de toda despedida.
Como
se te perdesse nos trens, nas estações
Ou
contornando um círculo de águas
Removente
ave, assim te somo a mim:
De
redes e de anseios inundada.
(II)
* *
*
Descansa.
O
Homem já se fez
O
escuro cego raivoso animal
Que
pretendias.
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