O ítalo-brasileiro JUÓ BANANÉRE, ou melhor, Alexandre Ribeiro Marcondes Machado,
nasceu em 11 de abril de 1892, no interior de São Paulo. Poeta e jornalista,
era também engenheiro. De Pindamonhangaba, mudou-se para a capital paulista,
onde começou a trabalhar na imprensa. Seus
poemas dispersos foram recolhidos no volume La Divina Increnca, de 1915, com
edições sucessivas até 1924; depois de um período de esquecimento, voltou a ser
publicado em 1966 (por Folco Masucci), 1993 (pela Escola Politécnica da USP, nos cem anos
de sua fundação, em homenagem ao ex-aluno), 2001 e 2007 (Editora 34). Em 1917 ainda publicou, em parceria com o escritor Moacyr Piza (1891-1923), Galabáro:
Libro di saniamento suciali / Calabar, livro em ataque ao cônego Valois de
Castro, que supostamente teria aderido à Alemanha na Primeira Guerra Mundia
(1914-1918).
No título há a referência irônica à famosa
obra de Dante Alighieri (1265-1321); no interior há paródias de vários poemas
famosos, desde “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu (1839-1860), até “Canção
do Exílio”, de Gonçalves Dias (1823-1864), sem deixar de registrar Camões
(15242-1579-80), La Fontaine (1621-1695), Edgar Allan Poe (1808-1849), Raimundo
Correia (1859-1911) e Castro Alves (1847-1871).
O primeiro veículo de comunicação em que
trabalhou foi o jornal O Estado de S.
Paulo; depois, revista O Pirralho,
criada pelo poeta Oswald de Andrade (1890-1954), onde assinava as crônicas da
coluna “O diario do Abax’o Piques – Diario Semanale di
Grande Impurtanza”, inspirada na fala dos imigrantes do bairro
Bela Vista (Bixiga), em que misturava o português e o italiano, com o
ilustrador Voltolino (1884-1926). Foi
redator da página “Sempr'Avanti!!” da
revista quinzenal O Queixoso, editada por Monteiro Lobato (1882-1948).
O uso do linguajar macarrônico – misto de
português e italiano – era uma sátira aos brasileiros que preferiam línguas
estrangeiras e valem como crônica de época e
retrato de costumes e modos de falar – a linguagem caricatural do italiano
imigrante no inicio do século passado no Brasil serve para ilustrar aspectos
da vida política, cultural e social dos anos 1910 da elite paulista. Entre seus alvos estiveram
o presidente Hermes da Fonseca, membros do clero e o poeta Olavo Bilac (foi demitido
da revista em 1915, após publicar uma sátira ao discurso nacionalista que o
poeta parnasiano realizara na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, mas
voltou a colaborar para o jornal com a página “O Féxa”).
Foi eterno candidato
à Gademia Baolista de Letras (Academia Paulista de Letras), nunca obteve uma cadeira, apesar dos imensos e
macarrônicos elogios que fazia a si mesmo e do reconhecimento de alguns autores
consagrados, como Oswald e o cronista Antônio Alcântara Machado (1901-1935). Em 2009,
o professor Carlos Eduardo Capela, de teoria literária da Universidade Federal
de Santa Catarina, publicou Juó Bananére – Irrisor, Irrisório.
Bananère morreu aos 41 anos, de anemia perniciosa,
em 22 de agosto de 1933; está sepultado no Cemitério da Consolação, também em
São Paulo, ao lado da esposa Diva, que morreu três anos depois.
* * * * *
Quando vejo
uma minina,
Fico logo paxonado!
Dô una ogliada p'ra ella,
I vô saino di lado.
* * * * *
MIGNA
TERRA
Migna
terra tè parmeras,
Che
ganta inzima o sabià.
As
aves che sto aqui,
També
tuttos sabi gorgeà.
A
abobora celestia també,
Che
tè là na mia terra,
Tè
moltos millió di strella
Che
non tè na Ingraterra.
Os
rios là so maise grandi
Dus
rio di tuttas naçó ;
I
os matto si perdi di vista,
Nu
meio da imensidó.
Na
migna terra té parmeras
Dove
ganta a galligna dangola;
Na
mingna terra tè o Vap'relli,
Chi so anda di gartolla
* * * * *
Piga-pau é passarigno,
O papagallo tambê.
Tico-tico non tê denti,
Migna avó tambê non tê.
* * * * *
O GORVO
P'ru Raule
À notte stava sombria,
I tenia a ventania,
Chi assuprava no ferrerò
Come o folli du ferrerò.
Io estava c'un brutto medó
Là dentro du migno salò,
Quano a gianella si abri
I non s'imagine o ch'io vi !
Un brutto gorvo chi entrò,
I mesimo na gabeza mi assentò!
I disposa di pensa un pochino,
Mi dissi di vagarigno:
– Come va, so giurnaliste?
Vucé apparece chi sta triste?!
– Non signore, so dottore...
lo sto c'un medo do signore
– Non tegna medo, Bananére,
Che io non so disordiére!
– Poise intó desga di là,
I vamos acunversà.
Ma assi che ilio descé
I p'ra gara delli io oglié
O Raule ariconheci,
I disse p'ra elli assi:
– Boa noute Raule, come va!
Intó vuce come sta?
Vendosi adiscobr|do, o rapaise,
Abate as aza, avuó, i disse: nunga
maise!
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