Poeta e editor, SERGIO COHN nasceu em 16 de abril de 1974, em São Paulo. É autor de Lábio dos Afogados (1999), Horizonte de eventos (2002), O sonhador insone (2006), O sonhador insone – poesia 1994-2012 (2012), Futebol com os animais (2013), Esse tempo (2015) e Um contraprograma (2016).
Criou a revista Azougue em 1994 e, em 2001, a Azougue Editorial. A partir de 2009, editou o tabloide Atual – O último jornal da Terra, com Fred Coelho e Heyk Pimenta (até 2013); a revista Nau, com Didi Rezende e Afonso Luz (2013-2014); organizou o LP Garganta, com a colaboração de poetas contemporâneos, entre eles Gregório Duvivier, Angélica Freitas e Alice Sant’Anna (2015); e, em 2016, a coleção Postal, com Marcelo Reis de Mello e Germano Weiss, que tinha, entre outros, poemas de Roberto Piva, Torquato Neto, Josely Vianna Baptista, Claudio Willer e Claudia Roquette-Pinto.
Escreveu, ainda, Nuvem Cigana – poesia e delírio no Rio dos anos 1970 (2008), Cultura Digital.br (2009), Revistas de Invenção – 100 revistas de cultura do modernismo ao século XXI (2011), Poesia.br (2013), Roberto Piva (Coleção Ciranda da Poesia, 2013) e A reflexão atuante – entrevistas e ensaios interventivos (2014). Organizou livros de, entre outros, Jorge Mautner, Darcy Ribeiro, Hélio Oiticica, Flávio de Carvalho, Ailton Krenak e Gary Snyder.

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TRÊS FORMAS DE AMAR

MAR

o mar é a fera em si
corpo revolto
imenso, impossível
de abarcar,
demanda toda atenção.
mas quem dele não tira
o olho, se perde da
razão: em fúria
é indomável,
em calmaria labirinto
(azul sob azul,
nenhum deserto
é tão sucinto).

ESTRELA

a estrela é a fera em nós
o desejo anfíbio
de mutar do que somos
a outro –
então mergulho,
desrazão.
a estrela não retorna
amor, silente
é a própria expressão
do não.

SELVA

a selva é a fera nos outros
a soma de desejos
que faz o seu jogo –
ritmos de corpos
devorando-se
sob a aparente calmaria.
cada delícia é
uma armadilha:
úmida de vida,
transforma quem a ama
em mais um.

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               PATHOS

O sopro de veneno no ouvido. O jorro
impossível assaltando os olhos. Luzes
intermitentes. Tantas luzes
no azul manto escuro. Um passo,
então silêncio. Uma árvore
se sobressai no mercúrio. O verde
de tantos matizes, a cadência
de tons. Rico universo de uma só cor
e tantas dimensões pressentidas.
Uma árvore. Poderia chamar-lhe
Pau-ferro, Cesalpinia ferrea,
mas é uma apenas uma árvore
à beira do caminho.
Catedral ao avesso, sacraliza o ao redor.
As formas tatuadas no seu tronco,
rostos são estranhos. Uma folha cai.
É possível perceber nosso semblante
em suas nervuras, a reciprocidade
do espanto. Ou sentar-se
a observar os cristais de orvalho,
mônadas no ventre do tempo.
Uma árvore, convite.
Nela ver o mundo,
missiva do imponderável.


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