O poeta MÁRIO CHAMIE nasceu em 1º de abril de
1933 no interior paulista, em Cajobi. Aos 15 anos mudou-se para a capital, onde
se formou em ciências jurídicas e sociais aos 23; aos 61 defendeu o doutorado
em ciência da literatura na UFRJ (A falação
possessória – vanguarda e modernismo brasileiro).
Foi um dos criadores do
movimento Poesia Práxis (Instauração Práxis), a partir da radicalidade formal
do concretismo, com o livro Lavra Lavra
(1962) – vencedor do prêmio Jabuti. Fundador da revista Práxis, com o modernista Cassiano Ricardo (1895-1974), o crítico
José Guilherme Merquior (1941-1991) e outros entusiastas. Antes, havia
publicado três livros, sendo a estréia em 1955, com Espaço Inaugural.
Ao todo, seus poemas foram
reunidos em 13 livros (poesia, prosa, ensaios e artigos, entre 1955 e 2002, além
de exposições e do CD Escrito por ele
mesmo, em 2001), publicados em francês, inglês, italiano, espanhol, alemão,
holandês, árabe e tcheco – convidado pelo Itamaraty, em 1963, fez uma série de
conferências sobre literatura brasileira em países da Europa e do Oriente
Médio, além de palestras sobre os problemas da vanguarda artística em diversas
universidades dos Estados Unidos (1964).
Um de seus ensaios mais comentados é sobre Macunaíma, do escritor Mário de Andrade
(1893-1945). Pauliceia Dilacerada (2009)
reúne memória e ficção, resultante de
pesquisas e estudos epistolares, iconográficos e comportamentais do autor
paulista, representante maior do modernismo brasileiro, que escreveu Pauliceia Desvairada (1922).
Foi secretário municipal de Cultura de São
Paulo (1979-1983), quando inaugurou o Centro Cultural, a Pinacoteca Municipal e
o Museu da Cidade de São Paulo. Atuou em televisão e rádio. Membro da Academia
Paulista de Letras, da qual foi um dos idealizadores, exerceu o magistério na
Escola Superior de Propaganda e Marketing, desde 2004 até a proximidade da
morte, com a disciplina de Comunicação Comparada.
Viúvo da artista gráfica Emilie Chamie,
organizadora do livro Rigor e paixão:
poética visual de uma arte gráfica (2000), morreu aos 78 anos, em 3 de
julho de 2011, na capital paulista.
*
* * * *
Plantio
Lavrado
o trato, fica o homem em seu domínio.
Joga
o jogo do roçado. Calca a planta do plantio,
cava
a cova para a sobra. Mas se o jogo que ele
joga
faz do ganho o seu contrário, dá em troça
com
o contrato então lavrado.
Cava,
então
descansa.
Enxada:
fio de corte corre o braço
de
cima
e
marca: pés, pés de barro.
Cova.
Joga,
então
não pensa.
Semente;
grão de poda larga a palma
de
lado
e
sonda: foz, foz de água.
Cava.
Calca
e
não relembra.
Demência;
mão de louco lança a pedra
de
perto
e
sopra: céu, céu de treva.
Cova.
Molha
e
não dispensa.
Adubo;
pó de esterco mancha o lodo
de
longo
e
forma: nó, nó de mofo.
Joga.
Troca,
então
condena.
Contrato;
quê de paga perde o ganho
de
hora
e
troça: mais, mais de ano.
Calca.
Cova:
e
não se espanta.
Plantio;
fé e safra sofre o homem
de
morte
e
morre: rês, rés de fome
cava.
[...]
[...]
* * * * *
AGIOTAGEM
um
dois
três
o juro:o prazo
o pôr / o centro / o mês
/ o ágio
porcentágio.
dez
cem
mil
o lucro:o dízimo
o ágio / a mora / a
monta em péssimo
empréstimo.
muito
nada
tudo
a quebra:a sobra
a monta / o pé / o
cento / a quota
haja nota
agiota.
* * * * *
Siderurgia S.O.S.
Se der
o ouro sidéreo opus horáriO
Sem
sol o sal do erário saláriO
Ser
der orgia semistério o empresáriO
Siderurgia
do opus o só do eráriO
Se
der a via do pus opus erradO
Se
der o certo no errado o empregadO
Se der errado no certo o emprecáriO
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