Nascido em Montenegro (RS), em 29 de abril de 1895, OLMIRO PALMEIRO DE AZEVEDO publicou, inicialmente, em periódicos da capital gaúcha, como o Almanaque do Globo e a Revista do Globo, e nos jornais O Momento, Pioneiro e Diário do Nordeste, de Caxias do Sul. publicou Veio d’Água, em 1926, e Vinho Novo, em 1936, que apresentam, de acordo com o poeta Jayme Paviani, em nota biográfica, “uma poesia sensível aos padrões estéticos dos meios literários da época e à vida da região”, que hoje, assegura, “adquire valor como manifestação cultural e histórica” (UCS/IEL, 1978). Depois de sua morte, a Editora da Universidade de Caxias do Sul (EDUCS) e o Instituto Estadual do Livro (IEL) editaram uma reunião de poemas já publicados em Vinho Novo ao lado de inéditos, organizados pelo autor: o livro chamou-se Vinho Velho e foi publicado em 1978.
Olmiro de Azevedo participou intensamente do movimento cultural e do cotidiano da cidade e também de Porto Alegre: fez parte da fundação da Sociedade de Cultura Artística em 1930, foi membro do Atheneu Literário e presidente da Sociedade de Cultura Artística de Caxias do Sul. É membro honorário da Academia Caxiense de Letras (ACL) desde a primeira sessão, presidida pelo escritor Cyro de Lavra Pinto (1851-1896), em Caxias, integrou a Academia Sul Rio-Grandense de Letras e a Estância da Poesia Crioula, ambas na capital gaúcha.
Formou-se em 1920 pela Faculdade Livre de Direito, em Porto Alegre; desempenhou o cargo de promotor público em Caxias do Sul, onde se encontrava, pronto para viajar e assumir a Comarca de Vacaria. Presidiu a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Caxias – em sua homenagem foi criada a Comenda Dr. Olmiro Azevedo –, e participou da criação/fundação do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (1926).
Em 1944 tornou-se consultor jurídico do Banco do Brasil, função em que se aposentou em 1963.
Como professor de Língua Portuguesa atuou “com inegável e constante dedicação ao culto exato do vernáculo”, atesta o então vereador-historiador Mário Gardelin (1928-2019), nas justificativas que constam na Indicação n. 142/75 do processo para designação do nome de uma rua; como poeta, também escreveu com o pseudônimo Márcio Nobre ou Márcio Corte Real. Sob este, teve seus escritos reunidos em um livreto pelo historiador-vereador Mário Gardelin em 1981, que se encontra no Acervo Histórico Municipal João Spadari Adami, em Caxias do Sul.
O poeta deixou um volume original de crônicas, Um raio de sol, e um de poemas, intitulado À sombra dos vinhedos. Deste projeto, o poeta publicou quatro poemas no jornal Diário de Notícias (25 de julho de 1956): “Pastoral”, “Cromo”, “Imigrante” e “Domingo” (na edição de 1978, este último ganhou novo nome, “Domingo Serrano”), que foram incluídos na edição póstuma, Vinho Velho – o projeto original permanece, em parte, inédito.
Além dos livros autorais, publicou poemas no livreto Caxias na Voz dos Poetas (ACL, 1980), compilação organizada por Gardelin, na qual Olmiro compartilha o espaço com Palmira Saldanha, Vico Parolini Thompson, Alfredo de Lavra Pinto, Bento de Lavra Pinto e Cyro de Lavra Pinto. Na década de 1990, foi lembrado no projeto Poetas Caxienses (em pôsteres e postais), iniciativa desenvolvida pela Secretaria Municipal de Educação e Biblioteca Pública Municipal, de Caxias do Sul, com o poema "A princípio...". Seu nome é verbete nos dicionários bibliográficos de Cecil Jeanine Albert, Lisana Teresinha Bertussi e Salete Rosa dos Santos (2006), de Pedro Leite Villas-Bôas (1991) e de Correia de Mello (1944).
Soube, ainda, demonstrar suas qualidades oratórias, como na inauguração da nova sede social do Clube Juvenil, em 8 de setembro de 1928. Entre várias homenagens, hoje é nome de uma rua no bairro Presidente Vargas (antiga Vila Ramos). O poeta e advogado morreu em 12 de maio de 1974, não sem antes ter introduzido, com Ernani Fornari (1899-1964) e Mansueto Bernardi (1888-1966), “a região colonial italiana na literatura rio-grandense”.

* * * * *


PRIMAVERA

Estão florindo os pessegueiros...
Olho as mulheres de minha cidade e vejo-as lindas
Como os pessegueiros florescidos,
Na promessa das frutas,
Em manhã jovial, depois da chuva...

Estão florindo os pessegueiros...
* * * * *

CAXIAS DO SUL

Sensibilizaram-me as tuas tardes langues
e tuas manhãs douradas de serrana.
Tardes de dias que se esvaem, exangues,
manhãs de olência feminil, profana.

Sofras, embora; pouco importa – zangues,
a tua alma as tristezas espadana.
Nas tuas veias se mesclam já dois sangues
estuantes de seivas americana.

Foste a moça que veio serra acima,
generosa, de força não vencida,
para a festa estonteante da vindima.

E és, hoje, ao brilho de teus dias ledos,
uma colônia de trabalho e vida,
engastada na pauta dos vinhedos.

* * * * *

A PRINCÍPIO
(Diante de uma foto antiga de Caxias do Sul, quando nascia)

A princípio era a floresta apenas, e o sol e o vento.
E a cidade surgindo, de leve, a medo, ao longo do traçado da via
Sinuosa, que seria a primeira rua, um dia.
Era a terra moça que se dava, inteira, aos casais que vinham de longe,
Com a coragem e o amor dos fortes.
Ali nasceram os primeiros filhos, e as grandes esperanças brotaram
Com as cantigas e orações ao pé dos berços e dos fogões
Nas noites longas.
E em torno, tombaram os primeiros mortos queridos,
Chumbados à terra como heróis cujos nomes foram apagados
Pelo tempo.
A princípio era a floresta apenas, e o sol, e o vento...


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