AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 18 de abril de 1906. Depois de uma temporada familiar na Suíça, para tratamento médico da mãe, retornou em 1916 para o Brasil. Sem interessar-se pelos estudos tradicionais, desenvolveu gosto pela literatura e publicou, ao voltar para o Rio de Janeiro em 1922, os primeiros poemas e crônicas no jornal O Beira-Mar, editado em Copacabana.
Trabalhando no comércio, assistiu à primeira conferência de Graça Aranha (1868-1931) na Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1924, em que o pré-modernista criticava o academicismo na literatura. Em seguida, dirigiu a biblioteca do Centro Dom Vital, fundada por Jackson de Figueiredo (1891-1928), que o influenciou e com quem fundou a revista Pelo Brasil. Conheceu Alceu Amoroso Lima (1893-1983), que assinava críticas literárias n’O Jornal como Tristão de Ataíde.
Entre 1924 e 1928 morou em São Paulo, onde conheceu Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954) e Plínio Salgado (1895-1975), todos participantes da Semana de Arte Moderna de 1922.  Em 1928, publicou o primeiro livro de poemas, Canto do Brasileiro Augusto Frederico Schmidt. Em 1929, publicou Canto do Liberto Augusto Frederico Schmidt e Navio Perdido. Passou a colaborar com diversos jornais cariocas e tornou-se crítico literário do Diário de Notícias. Anos depois escreveria para os jornais Correio da Manhã e O Globo.
Na década de 1930, publicou Pássaro Cego (1930) e Canto da Noite (1934), dedicado à esposa, Yedda Ovalle. Desaparição da Amada (1931), mesmo ano em que fundou a revista As Novidades Literárias, depois Literatura, e a Schmidt Editora (da conhecida Coleção Azul), que encerrou as atividades três anos depois. Entre os autores que publicou figuram Jorge Amado (O País do Carnaval), Raquel de Queirós (João Miguel), Gilberto Freire (Casa Grande e Senzala) e Graciliano Ramos (Caetés).
Nos anos 40 vieram A Estrela Solitária (1940), Mar Desconhecido (1942) – em 1945, participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, manifestação coletiva dos intelectuais brasileiros contra a ditadura do Estado Novo –, O Galo Branco (1948, 2ª ed. 1956) e Fonte Invisível (1949). Nas duas últimas décadas de vida publicou Mensagem aos Poetas Novos (1950), Paisagens e Seres e Ladainha do Mar (1951), Os Reis (1953), Poesias Completas (1956), Aurora Lívida (1958), Babilônia e As Florestas (1959), Antologia Poética (1962), Antologia de Prosa (1964), O Caminho do Fim (1964) e Prelúdio à Revolução (1964).
Assessor e ghost-writer do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), ao fim do governo filiou-se ao Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), fundado em 1961 por Augusto Trajano de Azevedo Antunes (1906-1996) e Antônio Gallotti (1908-1986); o IPES foi um dos principais conspiradores contra o presidente João Goulart (1918-1976), com ativa participação nas articulações que culminaram no Golpe Militar de 1964. A partir de agosto de 1962 integrou-se ao Grupo de Publicações Editorial (GPE), que tinha como liderança o general Golbery do Couto e Silva (1911-1987) – os integrantes escreviam, traduziam e distribuíam material impresso anticomunista e disseminava o que consideravam “literatura democrática”. Foi um dos artífices do movimento político-militar de 31 de março de 1964.
Augusto Frederico Schmidt morreu no Rio de Janeiro em 8 de fevereiro de 1965, vitimado por um ataque cardíaco. Para manter a memória do escritor, com mais de trinta livros (poesia e prosa) e artigos em jornais e revistas, foi criada Fundação Yedda & Augusto Frederico Schmidt (fundacaoschmidt.org.br).

* * * * *

A ALMA

Às vezes eu sinto – minha alma
Bem viva.
Outras vezes porém ando erradio,
Perdido na bruma, atraído por todas as distâncias.

Às vezes entro na posse absoluta de mim mesmo
E a minha essência é alguma coisa de palpável
E de real.
Outras vezes porém ouço vozes chamando por mim,
Vozes vindas de longe, vozes distantes que o vento traz nas tardes mansas.

Sou o que fui…
Sou o que serei…

Às vezes me abandono inteiramente a saudades estranhas
E viajo por terras incríveis, incríveis.
Outras vezes porém qualquer coisa à-toa –
O uivo de um cão na noite morta,
O apito de um trem cortando o silêncio,
Uma paisagem matinal,
Uma canção qualquer surpreendida na rua –
Qualquer coisa acorda em mim coisas perdidas no tempo
E há no meu ser uma unidade tão perfeita
Que perco a noção da hora presente, e então
Sou o que fui.
E sou o que serei.

* * * * *

LEMBRANÇA

Todos os que estão neste cinema agora,
Neste cinema alegre,
Um dia hão de morrer também:
Nos cabides as roupas dos mortos
          penderão tristemente.

Os olhos de todos os que assistem
          as fitas agora,
Se fecharão um dia trágica e dolorosamente.
E todos os homens medíocres
          se elevarão no mistério doloroso da morte.
Todos um dia partirão –
mesmo os que têm mais apego às coisas do mundo:
Os abastados e risonhos
Os estáveis na vida
Os namorados felizes
As crianças que procuram compreender –
Todos hão de derramar a última lágrima.

No entanto parece que os frequentadores deste cinema
Estão perfeitamente deslembrados de que terão de morrer
– Porque em toda a sala escura há um grande ritmo de esquecimento e equilíbrio.

* * * * *

DESPEDIDA

Os que seguem os trens onde viajam moças muito doentes com os olhos chorando
Os que se lembram da terra perdida, acordados pelos apitos dos navios
Os que encontram a infância distante numa criança que brinca
Estes entenderão o desespero da minha despedida.
Porque este amor que vai viajar para a última estação da memória
Foi a infância distante, foi a pátria perdida, e a moça que não volta.

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