Conhecido como o “Poeta do Mar”, VICENTE DE CARVALHO (Vicente Augusto de Carvalho) nasceu em Santos (SP), em 5 de abril de 1866. Aos 20 anos, formou-se pela Faculdade de Direito em São Paulo. Secretário do Interior e organizador do primeiro governo constitucional paulista, mudou-se para Franca, no interior do estado, quando ocorreu o golpe de estado do marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892).
Sua poesia sempre foi lírica, ligada ao parnasianismo. É sua a cadeira nº 29 da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1909. Estreou em 1885 com o livro Ardentias. Seguiram-se mais oito livros, sendo o último publicado em 1924, Luizinha, o único volume de prosa (uma comédia em dois atos). A obra que marcou sua carreira foi Poemas e Canções, publicada em 1908, com prefácio do escritor Euclides da Cunha (1866-1909), e que teve mais de 15 edições.
Além dos cargos políticos que exerceu e das funções advocatícias, Vicente de Carvalho foi jornalista. Redator do Diário de Santos, fundou o Diário da Manhã no mesmo ano, 1889. Colaborou com A Tribuna, também de Santos, e fundou, em 1905, O Jornal. Até 1913 colaborou n’O Estado de São Paulo. Abandonou o jornalismo quase no fim da vida, mas continuou a publicar nas páginas da revista A Cigarra; em revistas, também foi redator em Idéia e República, e colaborou com a Branco e Negro.
Abolicionista, participou da Bohemia Abolicionista (grupo formado por jovens moradores de Santos, que existiu entre 1881 e 1888), e ajudou escravos a se esconderem no Quilombo do Jabaquara, onde chegaram a se esconder 500 pessoas. Seu poema mais conhecido dedicado ao tema é “Fugindo ao Cativeiro”.
Casado com Ermelinda Ferreira de Mesquita, irmã do jornalista Júlio Mesquita (1862-1927), viajou com a família para a Europa, onde tratou-se de uma colite (inflamação do intestino grosso, o cólon), em um hospital francês. Faleceu em Santos em 22 de abril de 1924, devido a uma pneumonia. Anos depois, muitos de seus poemas foram traduzidos para o italiano; em 2017 foi publicada a antologia Mar Selvagem, que reúne poemas de diversos artistas que se inspiraram na obra do “Poeta do Mar”, organizada por Márcio Barreto.
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OLHOS VERDES

Olhos encantados, olhos cor do mar
Olhos pensativos que fazeis sonhar!
Que formosas cousas, quantas maravilhas
Em vos vendo sonho, em vos fitando vejo:
Cortes pitorescos de afastadas ilhas
Abanando no ar seus coqueirais em flor,
Solidões tranquilas feitas para o beijo,
Ninhos verdejantes feitos para o amor...

Olhos pensativos que falais de amor!
Vem caindo a noute, vai subindo a lua...
O horizonte, como para recebê-las,
De uma fímbria de ouro todo se debrua;
Afla a brisa, cheia de ternura ousada,
Esfrolando as ondas, provocando nelas
Bruscos arrepios de mulher beijada...
Olhos tentadores da mulher amada!

Uma vela branca, toda alvor, se afasta
Balançando na onda, palpitando ao vento;
Ei-la que mergulha pela noute vasta,
Pela vasta noute feita de luar;
Ei-la que mergulha pelo firmamento
Desdobrado ao longe nos confins do mar...
Olhos cismadores que fazeis cismar!

Branca vela errante, branca vela errante,
Como a noite é clara! como o céu é lindo!
Leva-me contigo pelo mar... Adiante!
Leva-me contigo até mais longe, a essa
Fímbria do horizonte onde te vais sumindo
E onde acaba o mar e de onde o céu começa...
Olhos abençoados, cheios de promessa!
Olhos pensativos que fazeis sonhar,
         Olhos cor do mar!

(Poemas e canções, 1908)

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