Com o irmão, Ruy
A poeta VIVITA
CARTIER nasceu em 12 de abril de 1893, em Porto Alegre. Aos 13, mudou-se
para Criúva, distrito de Caxias do Sul, diagnosticada com tuberculose. Aos 16,
já compunha marchinhas para o carnaval e fazia parte do grupo carnavalesco Os
Venezianos, na capital gaúcha.
Seus poemas eram publicados em jornais e revistas de
Caxias e de Porto Alegre e teve uma intensa participação em saraus literários,
o que a destacou em círculos literários. O pesquisador João Spadari Adami já incluíra uma nota
biográfica em História de Caxias do Sul (1864 a 1970); Vivita integra a coleção de pôsteres e
cartões-postais do projeto Poetas Caxienses, iniciado em junho de 1992 (o
postal é da terceira edição, 1994, e foi interrompido na quarta), da Biblioteca
Pública Municipal/SMEC; em 2012, a Prefeitura caxiense recriou o prêmio
literário que tem o seu nome, criado pela Universidade de Caxias do Sul em
1969; em abril de 2013, a Biblioteca Pública Municipal Dr. Demétrio Niederauer
promoveu a terceira edição do projeto Noite na Biblioteca, pela passagem dos
120 anos do nascimento da poeta.
Além de nomear o prêmio literário caxiense, ela é patrona
de cadeiras em duas academias literárias no Rio Grande do Sul, a de nº 11, da Academia Caxiense de Letras (ACL), e
a cadeira nº 21 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul. Vivita faleceu de tuberculose em Criúva em 21 de março de 1919, com apenas
25 anos. Na lápide junto ao túmulo, no cemitério de Criúva, encontra-se
um trecho do poema “In Pulvis – Inscrição
para meu túmulo".
Em 2019, no centenário da morte da jovem poeta, foram várias
as homenagens: o jornalista Marcos Kirst publicou a biografia O Ocaso da Colombina – A breve e poética
vida de Vivita Cartier; a fotógrafa Liliane
Giordano foi responsável pela mostra Vislumbres da Noiva do Sol, com imagens que fazem parte do livro, poemas
bordados, caixas de memórias e ilustrações, e que acompanhou a sessão de
autógrafos no Arquivo Histórico Municipal; e o Grupo Ueba encenou Vivita – A Noiva do Sol, no prédio
histórico Moinho da Cascata, a partir da biografia. Na Livraria do Arco da
Velha foi realizada a edição 294 (setembro) do Órbita Literária, intitulada Vivita Cartier – O alimento do mito, a
memória da poeta na ótica dos leitores.
* * * * *
IN PULVIS
Inscrição para meu túmulo
Aqui
jazem os trágicos horrores
Do
decompor sinistro da matéria;
Não
te detenhas, pois, nesta miséria
Oh!
Não deponha sobre a lousa flores...
Segue...
é vazia esta mansão funérea;
Minh'alma
paira além com seus fulgores,
Volve-te
a ela, a ela manda flores
Através
do pensar, com graça etérea.
Vai
prescrutá-la em qualquer sítio lindo!
Ela
é tão forte como o mar bramindo
E
tem a suave tepidez dos ninhos...
Aspira-a,
pois, nas brisas cariciantes
Desvenda-a
nas estrelas cintilantes
Evoca-a no cantar dos passarinhos!
* * * * *
IMORTAL
Tenho
o corpo abatido, o olhar tristonho;
recôndita
opressão me esmaga o peito;
falta-me
o ar, nunca respiro a jeito;
se
me obrigam a andar, logo me oponho.
No
espaço indefinido os olhos ponho,
atirada,
sem forças, sobre o leito.
E
penso… penso nesse gozo eleito
duma
vida futura, com que sonho…
Embora
humilde, resignada embora,
sucumbo
ao negro horror que me apavora,
se
pressinto um tormento prolongado.
E
anseio pela queda da matéria,
para
minh’alma, em escalada etérea,
chegar,
enfim, ao mundo desejado…
* * * * *
CONVALESCENTE
Por vontade espontânea, resolvi
Passar na Serra larga temporada.
Dizem todos que, aqui, recuperada
Hei de haver a saúde que perdi.
Longe da sociedade em que vivi
Onde, talvez, nem seja mais lembrada.
Irei gozando – mesmo desamada –
A solidão poética daqui.
Mas… Certo dia eu tornarei altiva
À multidão que numa roda-viva,
Goza e sofre num mar de agitação.
De paz irá, então, meu ser trajado;
De saúde meu corpo iluminado;
De versos… Um punhado em cada mão!
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