A poeta, contista, cronista e tradutora LARA DE
LEMOS nasceu em 22 de julho de 1923, em Porto Alegre. Em 1955 escreveu
contos para a Revista do Globo, mas seu primeiro livro é Poço das
águas vivas, de 1957, que recebeu o Prêmio Sagol para poesia inédita. Nesse
mesmo ano, passou a colaborar com revistas e jornais – Correio do Povo, Jornal
do Brasil, Diadorim (MG) e Colóquio de Letras, de Lisboa,
entre outros.
Formada em Jornalismo, Pedagogia, Direito,
Geografia e História, com especialização em Literatura Inglesa e Contemporânea
(EUA), compôs o Hino da Legalidade, com o ator Paulo César Pereio. Publicou
o segundo livro, Canto Breve, em 1962, ano em que também participou da
antologia de contos Nove do Sul; em 1963, saiu o livro de crônicas Histórias
sem amanhã, em que reuniu textos dos veículos de comunicação.
Recebeu o Prêmio Jorge de Lima, do Instituto
Nacional do Livro em 1968, pelo então inédito Aura Amara, que seria
publicado no ano seguinte. Seguem-se outras publicações, de poemas e crônicas,
e, na década seguinte, reúne poemas em Amálgama (1974), profere
conferência sobre “A mulher na literatura”, na sede da Associação Brasileira de
Imprensa (RJ) e participa do Congresso Internacional de Literatura, em São
Paulo (1977).
Na década de 1980, faz parte da primeira antologia
brasileira de poemas eróticos, Carne Viva (1983), recebe, da Prefeitura
de Porto Alegre, o Diploma de Mérito Cultural (1985), e o Instituto Estadual do
Livro (IEL) dedica um fascículo à vida e obra da poeta (1997). Ainda publica Hai
Kais, em 1989, com ilustrações de Mario Wagner.
Nos anos 90 recebe o Prêmio Nacional de Poesia
Menotti del Picchia pelo livro Águas da Memória (1990), o Prêmio
Açorianos de Literatura: Poesia (1995) e o Diploma de Personalidade Cultural,
pela União Brasileira de Escritores em 1997, ano em que publica Inventário
do medo, o penúltimo livro.
Em 2002 ganha novamente o Açorianos (por Lara de
Lemos: antologia poética), e, em 2006, publica Passo em Falso.
Quatro anos depois, no dia 12 de outubro de 2010, morre no Rio de Janeiro.
* * *
Anticanção para o negrinho do pastoreio
Não.
Não quero a vela
para
encontrar o inencontrável.
Nem
quero achar gordos cavalos
que
não pertencem
a
nenhum só
de
nossa gente.
Perca-se
tudo
(menos
coragem)
no
perecível
das
mãos que punem
homem
indefeso
nas
invernias.
Não
quero a vela
nem
teu segredo
menino-morto-assassinado
para
encontrar campo
roubado
gado
engordado
com
tua pobreza
multiplicada.
Poupa
teu choro menino-cristo
poupa
teu medo, cresce
pra
luta
preto
com branco
branco
com preto
no
mesmo campo
no
mesmo lado
no
mesmo canto.
* * *
Da
resistência
Cantarei versos de pedras.
Não quero palavras débeis
para
falar do combate.
Só
peço palavras duras,
uma
linguagem que queime.
Pretendo
a verdade pura:
a
faca que dilacere,
o
tiro que nos perfure,
o
raio que nos arrase.
Prefiro
o punhal ou foice
às
palavras arredias.
Não
darei a outra face.
* * *
Poema de múltipla escolha
Em
que tempo vivo
em
que hora?
de
aço ( )
de
água ( )
de
mágoa ( )
de
arma ( )
em
que tempo vivo
em
que hora?
de
faca ( )
de
ferro ( )
de
fúria ( )
de
fuga ( )
em
que tempo vivo
em
que hora?
de
canto ( )
castigo
( )
cegueira
( )
cadeia
( )
em
que tempo vivo
em
que hora?
de
teia ( )
de
muro ( )
de
usura ( )
de
guerra ( )
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