No desabitado, uma razão para existir*

 

E o homem é um habitante do universo

 

Ideia geral 1

O que chamam de espaço, procuro ocupar com a subjetividade ou com a poesia, o que pode se tornar redundante ou vago.

Mas pode ser que não.

No cotidiano das cidades, não há nada misterioso, nada que exija uma transição extraordinária do corpo para a mente.

Mas pode ser que sim.

O caminhar é o espírito do caminho, o que não deixa vestígio; algo vem antes e depois segue, e é seguido pelo que vem depois.

Pode acontecer de eu ficar mais triste, pode ocorrer um serendipity – em ambos os casos, um desvio.

Por isso, acredito na importância das sensações materializadas em livros e, por isso também, o exercício de um mínimo dizer para consolidar a expansão.

 

Ideia geral 2

Entre o real e o virtual, muita coisa passa.

Poemas.

Guerras.

Cidades.

Rios.

Nuvens e pessoas.

Sobre o tempo, não tenho certeza.

 

Ideia geral 3

Econômicas, sociais e agora tecnológicas, as revoluções.

Entre perdas e ganhos, parte da humanidade sobrevive.

Talvez ainda sobreviva muita gente; ideias que poderiam ser defenestradas; sentimentos desconfortáveis; tantas leis.

Afinal, revolução é pra isso mesmo.

Mas é romântico afirmar que todo jovem é revolucionário.

Aqueles que parecem viver na linha do tempo de Benjamin Button.

Os que passeiam por aí e não sabem reconhecer a si mesmos no outro.

No redesenho sintomático da cidade por onde circula.

Houve um tempo, dizem, em que a vida artística e social era quase uma conspiração.

E que se aprendia com o movimento das cidades.

 

Ideia geral 4

O século XXI parece argumentar que não houve aprendizado.

Quem está no comando de tudo o que nos diz respeito, em termos de sociedade, não reconhece que a ciência é o que une a humanidade.

Vira e mexe, a desnecessidade de governos, tal como conhecemos, movidos pela arrogância, mais do que pela criatividade e pela inteligência.

O homem é um habitante do universo e converge, em alguma instância, para a cidade.

Logo, a cidadania e tudo o que implica é um direito adquirido.

Poucos aprendem por querer aprender – a grande maioria é forçada a adquirir conhecimento.

Teoriza-se bastante sobre o conceito de liberdade e sobre os limites.

É quase nada a reflexão sobre critérios, motivados ou condicionados, que levam às “possibilidades de escolha”, desde que sejam dadas as condições de espaço-tempo para que haja opções.

Quase nada sobre a liberdade da solidão.

Aquele que age por vontade própria talvez tenha melhor condição de entender o que é liberdade.

Vale para o que ele quer aprender – sem essa condição, o aprendizado deixa de ser uma atividade real.

Na anomia, o que é bom parece simulacro e o normal passa por anormal.

No atual modo de viver, o contrário.

 

Ideia geral 5

Pouco se ensina sobre o poder da leitura.

Na teoria da unificação, em que pese o princípio da indeterminação, o espaço ganha novas dimensões, dado o paradoxo da informação.

A experiência de vida tende a ser esquecida, pois estamos mais sujeitos à crítica e às perdas.

Mudar, verbo de aparente neutralidade, é uma nova angústia, já que nos tornamos mais intransigentes, a ponto de estabelecer verdades a partir do espaço físico de uma quitinete.

Existe uma liberdade sem precedentes, que, no “olho que tudo vê” da revolução tecnológica, se apresenta como uma trilha em que os passos podem ser refeitos, mas também desfeitos.

Decisões e escolhas continuam a ser monitoradas, por motivos intrínsecos e extrínsecos, em nome do bem comum.

As cidades são testemunhas do progresso e da barbárie, por isso elas não param de se expandir; não há conquistas que satisfaçam, há sempre um desafio cotidiano.

Sem nos darmos conta, agradecemos o novo dia com a esperança de que as coisas vão mudar, e a “memória da nossa escravidão”, postulada pelo jornalista William Godwin, precisa ser cotidianamente removida, abafada, purificada, para que possamos nos dedicar às coisas que realmente importam – não para ser compreendido, apenas para ser livre.

Não há nada de sublime nisso; se a sociedade democrática é filha do Livro, como dizem, é impossível pensar uma sociedade materialmente saudável sem o conhecimento, sem o aprendizado construído pelo desejo.

Sem um repertório de ideias, ainda menos.

 

* Ilustração de Paolo Barzman.


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