O poeta e compositor SERGIO NAPP nasceu em Giruá (RS), no dia 3 de julho de 1939. Formado em engenharia, foi professor universitário e colaborou com diversos jornais gaúchos, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Seu primeiro livro de poemas é de 1985, Quintais da Madrugada; em 1992, volta à poesia em A construção da casa, e, em memória das Águas (2002). Sua poesia faz parte de antologias nacionais e internacionais, como Marco Sul/Sur (Brasil/Argentina, 1992), e também está voltada para o público infantojuvenil, como em delicadezas do espanto (2004).

Sua presença em festivais da canção é marcante – Moenda da Canção Nativa (Santo Antônio da Patrulha, RS) e Vindima da Canção (Flores da Cunha, RS), mas o mais lembrado é o Califórnia da Canção Nativa de 1981, em Uruguaiana, quando conquistou a Calhandra de Ouro com a canção “Desgarrados”, em parceria com Mário Barbará (1954-2018) – a música já foi gravada por vários outros artistas, entre eles, Vitor Ramil.

Em 2005, Napp foi patrono da Feira do Livro de Bento Gonçalves, e em 2007, ainda na Serra gaúcha, foi patrono da Feira do Colégio Pe. Colbacchini, de Nova Bassano. Ganhou prêmios literários em concursos de poesia, contos e crônicas, como no Concurso Nacional de Contos Paulo Leminski (PR, 1998), no Apesul (no final da década de 1979), sem esquecer do concurso promovido pelo Clube de Cultura do Rio Grande do Sul, em 1959.

Entre os livros publicados, em outros gêneros, encontramos Para voar na boca da noite (1987, contos), A gangue dos livros (2005, novela),

A maior produção do escritor está voltada para as composições musicais – como “Meus Olhos”, gravada por Elis Regina – e, como produtor musical, foi responsável pelo LP de estreia do Grupo Canto Livre (1981), um dos principais grupos vocais gaúchos, e ganhou o Prêmio Açorianos de Música, Troféu Especial, pelo CD Mala de Garupa, em 2003.

Além disso, foi diretor da Casa de Cultura Mario Quintana (1987-1991) e diretor-superintendente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (1995-1997), ambas na capital gaúcha.

Ele morreu aos 75 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória, no dia 28 de maio de 2015. O último livro de Sérgio Napp foi No Cafundó das Estrelas, de poesia infantojuvenil, em 2013. 

* * *

 


XII

 


não se beija o morto

ao morto se agradece

pela vida

cerca de pedra

subitamente interrompida

 

não se lamenta o morto

do morto se registram

as virtudes

e o inúmeros vícios

 

não se culpa o morto

ao morto se perdoa

o que ficou nas entrelinhas

e os silêncios

 

não se julga o morto

do morto guarda-se

o último registro

carteira de identidade

um anel de pedras falsas

 

não se purga o morto

o morto é quadro

na parede das lembranças

saudade

que acontece em repentes

 

do morto não te despeças

o morto é tempo

que não te abandona

 

* * *

 

DESGARRADOS

 

Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas,

Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,

Carregam lixo vendem revistas, juntam baganas,

E são pingentes nas avenidas da capital.

 

Eles se escondem pelos botecos entre os cortiços,

E pra esquecerem contam bravatas, velhas histórias.

Então são tragos muitos estragos por toda noite,

Olhos abertos o longe é perto, o que vale é o sonho.

 

Sopram ventos desgarrados carregados de saudade,

Viram copos, viram mundos,

Mais o que foi, nunca mais será

Mais o que foi , nunca mais será.

 

Cevavam mate, sorriso franco, palheiro aceso,

Viravam brasas, contavam casos polindo esporas,

Geada fria, café bem quente, muito alvoroço.

Arreios firmes e nos pescoços lenços vermelhos.

 

Jogo do osso, cana de espera e o pão de forno,

O milho assado, a carne gorda e a cancha reta,

Faziam planos e nem sabiam que eram felizes,

Olhos abertos o longe é perto o que vale é os sonhos.

 

Sopram ventos desgarrados carregados de saudade,

Viram copos, viram mundos,

Mais o que foi, nunca mais será

Mais o que foi, nunca mais será.

 

Jogo do osso, cana de espera e o pão de forno,

O milho assado, a carne gorda e a cancha reta,

Faziam planos e nem sabiam que eram felizes,

Olhos abertos o longe é perto o que vale é os sonhos.

 

Sopram ventos desgarrados carregados de saudade,

Viram copos, viram mundos,

Mais o que foi, nunca mais será

Mais o que foi, nunca mais será.


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